A economia de Taylor Swift chegou à Europa
Não são apenas os fãs de Taylor Swift que estão de olho nas datas da turnê The Eras Tour. Um dos economistas mais proeminentes da Europa está muito ciente da presença da cantora que está passando o verão viajando entre estádios europeus.
Philip Lane, economista-chefe do BCE Banco Central Europeu), tinha a estrela pop em mente quando falou em um evento nesta segunda-feira (17). Ao ser perguntado sobre o risco de que a inflação persistente no setor de serviços pudesse se intensificar, especialmente com a Europa entrando em uma época movimentada, com Olimpíadas em Paris e campeonato europeu de futebol de 2024 na Alemanha.
“Bem, isso é muito interessante”, disse ele no evento. “Você conseguiu dizer tudo isso sem mencionar Taylor Swift.”
A cantora faz turnê pela Europa neste verão (inverno no Brasil), trazendo consigo centenas de milhares de Swifties que gastam com passagens aéreas, hotéis, restaurantes e pulseiras de amizade.
Nesta sexta-feira (21), ela fará o primeiro de oito shows no Estádio de Wembley, em Londres e 700 mil pessoas são esperadas para ver o show na capital britânica. Analistas estão debatendo a pegada econômica que isso deixará.
Economistas nos Estados Unidos sabem que Eras Tour é uma força econômica. À medida que consumidores gastavam em shows, refeições, férias e outras momentos de lazer que foram restringidos durante a pandemia de Covid-19, uma empresa estimou que a turnê poderia gerar US$ 4,6 bilhões (R$ 25 bilhões) apenas na América do Norte com gastos em ingressos, mercadorias e viagens.
Membros de bancos centrais estão justificados em examinar os possíveis efeitos inflacionários da chegada de uma superestrela global em seus países. Em maio do ano passado, quando Beyoncé deu início à sua turnê mundial Renaissance em Estocolmo, um economista atribuiu um pico nos dados de inflação ao show da cantora, já que os fãs viajaram de longe para testemunhar o primeiro show.
Os bancos centrais europeus começaram a reduzir as taxas de juros —ou estão prestes a fazê-lo— à medida que a inflação desacelerou substancialmente no último ano, colocando suas taxas de juros ideais em 2% à vista. Mas há preocupações persistentes de que as pressões inflacionárias não tenham sido eliminadas porque os ganhos de preços para serviços, que incluem hotéis e restaurantes, são repetidamente mais altos do que o esperado.
A demanda que a Eras Tour cria por quartos de hotel e voos por toda a Europa poderia elevar os preços que alimentam a taxa de inflação de cada país.
Os membros de bancos centrais são sensíveis até mesmo a mudanças mínimas nos dados enquanto tentam distinguir efeitos pontuais de efeitos duradouros. Se eles acharem que a inflação não esteja desacelerando como esperado, eles poderiam adiar a redução das taxas.
“Todos esses pequenos detalhes vão importar muito”, disse Lucas Krishan, estrategista do TD Securities em Londres. Eles podem “confundir o cenário para os bancos centrais ao tomar essas decisões”.
No mês passado, a inflação de Portugal acelerou, em parte devido a um aumento nos preços dos hotéis em Lisboa “resultante de um grande evento cultural”, disse o escritório de estatísticas do país. Swift se apresentou em Lisboa nos dias 24 e 25 de maio.
O impacto que eventos como a turnê de Swift têm sobre a inflação pode ser mitigado pela forma como economistas de países diferentes antecipam o efeito dos shows para que investidores e outros não se surpreendam com os dados.
Formuladores de políticas do BCE disseram que o caminho de volta para inflação de 2% será “acidentado” e que a temporada de turismo relativamente forte já está incorporada em suas previsões.
Mas Krishan disse que era possível que os concertos de Swift em agosto, quando a turnê voltar a Londres, pudessem aumentar a inflação de serviços na Grã-Bretanha, especialmente porque uma de suas datas de turnê pode coincidir com o dia em que a agência de estatísticas do país registra dados de preços.
Se os preços dos hotéis seguirem o padrão estabelecido quando ela se apresentou em Liverpool neste mês, a inflação de serviços poderia subir até 0,3 pontos percentuais. Dados de inflação mais altos do que o esperado em agosto poderiam encorajar os oficiais do Banco da Inglaterra a adiar a redução das taxas em setembro, disse Krishan.
Outros analistas são céticos quanto à capacidade de Swift de ter um impacto sísmico que apareça nas estatísticas nacionais.
“Taylor Swift provavelmente não está afetando a política dos bancos centrais. Ela provavelmente não está afetando a política do governo”, disse George Moran, economista da Nomura. “E eu não acho que seja uma opção sustentável para o crescimento de um país depender de shows de superestrelas.”
O Barclays previu que a turnê de Swift levaria a um aumento de quase 1 bilhão de libras (R$ 6,86 bilhão) na economia britânica, mas essas sugestões são difíceis de substanciar, disse Moran, porque ninguém sabe quanto as pessoas estão desviando seus gastos de outras atividades. Mesmo assim, 1 bilhão de libras não seria suficiente para revitalizar a estagnada economia britânica.
Ainda assim, Moran acrescentou que para cidades individuais e certos setores, a turnê poderia ter um impacto significativo. Quando os ingressos foram colocados à venda no verão passado, as buscas no Airbnb nas cidades anfitriãs aumentaram mais de 300% em média, informou a empresa. A autoridade da Grande Londres estimou que os oito shows de Taylor Swift em Londres gerariam 300 milhões de libras (R$ 2,05 trilhões) para a economia.
“O impacto será mais local do que macro”, disse Moran. “Taylor Swift é obviamente um fenômeno enorme, e as áreas que ela está visitando estão causando um grande burburinho no setor de hospitalidade.”
Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times.
Folha de São Paulo