Política

Boulos busca saída arriscada para driblar DNA de radical

Guilherme Boulos amadureceu, mas promete não amolecer. A tirada do pré-candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, cerne da sua apresentação imagética na sabatina Folha/UOL desta sexta (12), resume o desafio à frente do deputado federal.

Boulos divide a liderança na corrida a esta altura com o vice do rival tucano, Ricardo Nunes (MDB). Mas seu problema central não é só ultrapassar Nunes e outros rivais, e sim lidar com a rejeição de 33% apontada pelo Datafolha na semana retrasada, a maior entre os postulantes.

Para tanto, a sabatina indicou um caminho arriscado. Ele prometeu colocar foco na questão habitacional, problema fulcral de São Paulo, e não erra ao diagnosticar que a falta de cumprimento da lei, como no caso de prédios abandonados, leva a conflitos. Como resolver é que o ponto.

Como líder do movimento dos sem-teto por duas décadas, teoricamente Boulos está qualificado a sugerir caminhos.

Aqui começa o nó. Boa parte de seu problema de imagem é a ideia de que ele é um radical, apoiador de invasão de imóveis, baderneiro. Ele voltou a dizer que isso é fake news, mas não consegue fugir do DNA ao se recusar a falar em desocupações e ao ser lembrado de episódios em que defendeu a depredação da Fiesp por seus companheiros em 2016.

“Quando você está numa manifestação, no calor da hora…”, tergiversou.

Resta evidente que o deputado, transmitindo segurança retórica grande, não cai mais em provocações facilmente. Talvez tenha de fato evoluído em alguns quesitos conceituais, mas isso é irrelevante numa campanha: o que importa é a imagem.

Confluem então o Boulos visto como invasor e o que se propõe a tratar do caos urbano paulista de forma humana. Ninguém irá discordar dele quando o pré-candidato diz que precisa dar emprego e renda para retirar as pessoas que moram em barracas da rua, mas o problema demanda uma urgência que não pode esperar a economia.

No mais, além da atenuação de imagem que já vinha desde 2020, Boulos mostrou-se afiado nas contradições pontuais: o caso Janones, a dificuldade que terá, se eleito, na relação como governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Ele vai melhor quando aponta os problemas de gestão de Nunes, contrapondo a boa situação financeira do município aos seus problemas. E segue apostando na polarização, falando menos do apoio que tem do presidente Lula (PT) e mais da presença de Jair Bolsonaro (PL) na pré-campanha do atual prefeito.

Novamente, é incerto. Como mostrou o Datafolha, o paulistano se diz mais de direita (28%) do que de esquerda (21%), e ao menos de forma privada muitos devem concordar com a assertiva do polêmico vice de Nunes, o ex-comandante da Rota Ricardo Mello Araújo (PL), de que a polícia deve agir de forma diferente no Jardins e na periferia.

Aqui, Boulos sugere que seu mau desempenho entre os mais pobres passa pelo fato de que eles não estão interessados hoje na campanha, o que é verdade, restando saber se sua aposta de que a associação de Nunes ao bolsonarismo e à PM irão lhe render votos na reta final.

Folha de São Paulo

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