Boulos recicla ação da Haddad para cracolândia e quer GCM chegando ‘antes do crime’
A candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo anunciará nesta quinta-feira (1º) as propostas de seu programa de governo com a área de segurança em destaque. O tema é usado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) e por outros rivais para desgastar o deputado na eleição.
Uma prévia do pacote de Boulos contra a criminalidade e a violência obtida pela Folha descreve como um dos objetivos do candidato, se eleito, o uso da Guarda Civil Metropolitana no chamado policiamento de proximidade e a criação de uma unidade da GCM específica para a cracolândia, na região central.
A proposta de instalar uma inspetoria cobrindo Luz, Campos Elíseos e Santa Ifigênia recicla iniciativa da gestão Fernando Haddad (PT), que instituiu em 2016 a Inspetoria de Redução de Danos. O petista, apoiador de Boulos, tinha na época como secretário de Segurança Urbana o sociólogo Benedito Mariano, que coordenou a parte de segurança no plano de governo.
Mariano confirma a ideia de resgatar a medida e justifica que a inspetoria teve bons resultados ao apostar em agentes treinados para lidar com dependentes químicos e dinâmicas próprias da região, substituindo a repressão pura por incentivo a tratamento médico e a trabalho.
Segundo o ex-secretário, a inspetoria poderá ganhar outro nome, mas terá “a mesma dimensão” da que funcionou sob Haddad e foi extinta pelo prefeito seguinte, João Doria (então no PSDB). A equipe atuava em sintonia com o programa De Braços Abertos, lançado pelo petista e interrompido pelo então tucano.
Uma das mensagens da campanha de Boulos passa por repetir ações que deram certo nas chamadas gestões progressistas da capital, com três ex-prefeitos do PT —Luiza Erundina (hoje no PSOL), Marta e Haddad.
“Boas experiências a gente tem que retomar, qualificar e ampliar”, diz Mariano.
O plano de Boulos é colocar agentes da GCM para mediação de conflitos na área e reduzir os níveis de criminalidade, ao mesmo tempo que atuem em parceria com a área social da prefeitura para o atendimento aos usuários de drogas e com as forças de segurança estadual para conter o tráfico.
A inspetoria no governo Haddad chegou a ter 200 GCMs capacitados por servidores de áreas como saúde, trabalho e assistência social, segundo o ex-secretário, que diz que o resultado foi uma queda de 40% a 50% nos casos de furto e roubo na região. Sob Nunes, a Inspetoria de Operações Especiais é empregada em ações na cracolândia, mas não é exclusiva da área e tem abordagem mais ostensiva.
Mariano afirma que a expectativa é replicar o método nos demais locais com cenas abertas de uso de drogas. A cidade tem ao menos 72 concentrações de dependentes.
A campanha de Boulos já tinha anunciado diretrizes para o problema da cracolândia, mas sem detalhar as iniciativas que vai propor. Ele promete dobrar ao longo do mandato o efetivo da GCM, hoje de pouco mais de 7.000 membros, e sinaliza uma política de segurança que preze por direitos humanos. Defende ainda que os integrantes da guarda usem câmeras corporais, assim como os PMs.
A segurança é uma das pautas centrais desta eleição, citada em pesquisas como uma das principais mazelas da cidade —embora seja uma atribuição estadual— e impulsionada por candidatos como José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo), que enfatizam a questão em seus discursos.
De acordo com Mariano, a chave de prevenção, com a GCM atuando com policiamento comunitário em toda a cidade e estabelecendo relação de confiança com moradores e comerciantes, será capaz de dar respostas à parcela da população amedrontada por furtos e roubos.
“Vai solucionar objetivamente [o problema] porque vai chegar antes de o crime acontecer”, diz, criticando a atuação da corporação restrita ao centro expandido e cobrando descentralização até a periferia.
A candidatura de Boulos defenderá uma lógica de rondas da GCM que tenha as escolas da rede municipal como uma espécie de epicentro.
A ideia é reforçar a segurança dentro e fora dos locais, com a promessa de ter uma viatura da guarda em cada unidade na saída e entrada de alunos.
A meta, segundo Mariano, é ter um GCM para cada mil habitantes, em média, e se aproximar do “número ideal” de 14.000 integrantes. Os novos concursos teriam paridade de gênero, com vagas divididas entre homens e mulheres, para aumentar a presença feminina.
“Grande parte do efetivo vai estar envolvida em estabelecer o maior programa de segurança escolar na capital”, diz, comentando que a iniciativa ajudará a “diminuir a sensação de insegurança”.
A formulação do plano de governo para a área de segurança teve entre os colaboradores o coronel Alexandre Gasparian, ex-comandante da Rota (batalhão de elite da PM conhecido pelo histórico de letalidade e truculência).
Gasparian “concorda com a lógica do policiamento de proximidade”, diz Mariano, ecoando o discurso da candidatura de que o oficial da reserva é alinhado à visão de segurança preventiva e humanizada.
Outra bandeira de Boulos será reduzir roubos e furtos de celulares “de maneira substancial”, nas palavras do coordenador, com uma força-tarefa contra a receptação envolvendo, além de órgãos municipais, as instâncias estadual e federal, com Polícias Militar e Civil, Receita e Polícia Federal.
Também há a intenção de combater a violência contra a mulher adotando um programa de tolerância zero, com maior acesso ao auxílio-aluguel para vítimas e ampliação da Patrulha Guardiã Maria da Penha, a cargo da GCM, hoje criticada pelo alcance limitado.
Folha de São Paulo