Saúde

Calcinhas menstruais ampliam pontos de venda para chegar além da classe média

No corredor dedicado aos cuidados íntimos das mulheres, seja na farmácia ou no supermercado, as opções são várias: absorventes interno, externo, com abas, sem, mais fino, mais longo e por tipo de fluxo.

Agora começam a aparecer com mais frequência também as calcinhas absorventes, que prometem ser uma alternativa mais sustentável na comparação com os absorventes tradicionais, que são descartáveis.

A presença desses produtos no varejo físico, porém, ainda é incipiente, com as principais empresas mantendo presença mais forte no ecommerce e no relacionamento criado com consumidoras em geral jovens, de classe alta e com mais disponibilidade para testar produtos.

A diversidade de produtos para cuidados íntimos, diz Karen Cavalcanti, sócia-diretora da Mosaiclab, empresa de inteligência de mercado da Gouvêa Ecosystem, acaba circunscrita a algumas classes sociais. Nas mais baixas, há pouco espaço para arriscar um produto novo.

“Na baixa renda, o tabu é muito maior. Para muita gente, a menstruação ainda é sujeira. A calcinha muda um pouco esse mindset, mas a naturalização dos termos ainda é algo complexo”, diz a consultora.

A líder do mercado de calcinhas menstruais, a Pantys, planeja para este ano um investimento de R$ 1 milhão para chegar a mais pontos de venda e melhorar o “awereness”, como as empresas se referem a “tornar-se conhecida”.

“Parece que a gente consegue chegar a todo mundo na internet, mas não é bem assim”, diz Maria Eduarda Camargo, a Duda, sócia-fundadora da marca. “A pessoa quer pegar, ver o produto de perto.”

Hoje, 70% dos negócios da marca vêm do ecommerce. Os pontos físicos, diz Emily Ewell, também fundadora da Pantys, são importantes para dar visibilidade, credibilidade e ajudam a democratizar o acesso ao produto. Os outros 30% estão distribuídos entre lojas próprias (10%) e revendas (20%).

São hoje 3.124 pontos de venda físicos e o número deve fechar o ano em 4.042. Na avaliaçãp de Emily, as calcinhas menstruais consegue transitar bem em duas categorias de produtos, que são saúde e moda.

Para os canais de moda, como grandes varejistas e marketplaces, vão principalmente os produtos de parcerias, de coleção, que têm mais apelo de design e são limitados.

No canal farmácia, a empresa chega com os produtos mais básicos. Recentemente a marca lançou uma linha batizada de Xodó, por R$ 55, quase metade das demais.

Ainda na estratégia de se tornar mais conhecida, a Pantys está negociando novas lojas físicas, as primeiras fora de São Paulo.

Para Raíssa Assmann Kist, cofundadora da Herself, por se tratar de uma mudança cultural, a sensação de que produtos menstruais como as calcinhas e as roupas de banho –produto central da marca– estão restritos a um nicho econômico ainda deve perdurar.

A criação da Herself, em 2017, veio de uma percepção, conta Raíssa, de que a oferta de produtos para menstruação estava estagnada. “Desde os anos 1930, tínhamos a mesma tecnologia”, diz. Um financiamento coletivo colocou as primeiras primeiras peças, biquínis com tecnologia de absorção.

“Pesquisas mostravam que 30% das mulheres deixavam de participar de atividades em piscinas”, conta Raíssa. Hoje, o portfólio da marca inclui além de maiôs e biquínis, toalhas (para usar na cama, por exemplo), calcinhas e absorventes menstruais laváveis.

Cerca de 80% das vendas vêm dos canais online, onde a marca começou. O restante vem das farmácias –nas unidades da Panvel no Rio Grande do Sul– e na loja própria em São Paulo, na galeria Metrópole, na República.

Raíssa também considera que chegar às farmácias permite se fazer conhecer. A popularização desses produtos depende, na avaliação dela, de o assunto menstruação também ser naturalizado e a pobreza menstrual, nome dado à falta de acesso a protetores, superada.

De acordo com ela, o consumidor ainda não se deu conta de que existem outras possibilidades além do absorvente externo, o tipo mais vendido.

Pesquisas internas usadas pela Essity, marca sueca de produtos íntimos, apontam que de 99% das consumidoras conhecem absorventes descartáveis e eles são a escolha de 89% delas. Já entre os produtos laváveis –que pegam calcinhas, absorventes em tecido e coletores–, 73% dizem conhecer, mas dessas, somente 7% usam.

No Brasil desde 2011 com a marca Tena, líder em produtos para incontinência urinária, a Essity decidiu que a ampliação de seu portfólio começaria pela categoria de cuidados e proteção íntima.

Por aqui, o nome escolhido para a linha foi Libresse e inclui, além dos laváveis, os absorventes descartáveis e um tipo de adesivo térmico para o alívio de cólicas menstruais.

A estratégia da empresa é manter disponíveis todas as opções, ainda que no Brasil haja barreiras que dificultam o crescimento de produtos mais sustentáveis, como preço e desconhecimento.

Nos cálculos de Priscila Ramos, gerente de marketing da Essity no Brasil, são necessários ao menos quatro ciclos menstruais para que a compra de um produto lavável passe a valer a pena.. “Entendemos que, no curtíssimo prazo, adotar [o produto lavável] é caro. Estamos falando de um desembolso mínimo de R$ 200, R$ 300”.

Na avaliação de Priscila, ter um portfólio completo, entre descartáveis e laváveis, torna a Libresse uma marca disponível para diferentes demandas. “Se a gente tivesse adotado a estratégia de entrar, como a Pantys, só em laváveis, ficaria muito nichado. E Libresse, mundialmente, não é assim.”

Quando avaliava entrar no segmento no Brasil, a Essity cogitou a compra da Pantys, mas as conversas não andaram.

Atualmente, a Libresse só é vendida pela internet, no ecommerce da marca, e tem a ginecologista (e ex-BBB) Marcela Mc Gowan como uma de suas divulgadoras. A empresa deve chegar aos pontos físicos de venda em breve, mas, segundo Priscila, os planos ainda são confidenciais.

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Informação

Folha de São Paulo

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