Concentração nas sensações do próprio corpo facilita o orgasmo nas mulheres

Um estudo realizado no Departamento de Psicologia da Universidade de Essex e publicado pela Brain Sciences mostra que a interocepção [capacidade do cérebro de perceber as sensações internas do corpo] pode aumentar a incidência do ápice do prazer sexual para mulheres. Os resultados sugerem que prestar atenção no que o corpo está sentindo durante o sexo é o que pode levar ao orgasmo.
A psicóloga e pesquisadora responsável, Megan Klabunde, diz que o estudo é importante por olhar além das disfunções e dificuldades que as mulheres podem enfrentar para chegar ao prazer sexual. “Há pouca pesquisa mostrando o processo natural do orgasmo feminino, muito menos demonstrando meios de enriquecer esses orgasmos.”
O artigo destaca que a interocepção pode levar ao orgasmo devido a três fatores: o primeiro é via toque e sensorial, o segundo é relacionado à cognição e às relações afetivas e o terceiro é pelo nervo vago, responsável por controlar as reações involuntárias do corpo.
O que é interocepção?
Lilian Fiorelli, uroginecologista e especialista em sexualidade feminina pela USP (Universidade de São Paulo), explica que a interocepção é estar consciente e intencionalmente atenta aos sinais do próprio corpo, como a respiração, batimentos cardíacos, toques e sensações.
Para ela, um dos pontos principais é o autoconhecimento. “Você entender como o seu corpo funciona, em que situações ele funciona, para estar totalmente entregue àquele momento.” A confiança em si foi algo pontuado por Klabunde como um fator importante durante uma relação sexual.
O estresse e as preocupações do dia a dia podem interferir negativamente na interocepção e, consequentemente, no alcance do orgasmo. Fiorelli diz então que não só a percepção do corpo, mas entender como ele está naquele momento, pode predizer como será a sua satisfação sexual.
Como aumentar a interocepção?
Fiorelli aponta a importância do que ocorre em momentos ainda prévios ao contato sexual. Manter um estilo de vida saudável, tanto pessoal quanto profissional, e a regulação do humor são alguns dos fatores que ela descreve.
Além disso, ela fala da sensibilização do corpo com exercícios de toque, sexuais —como a masturbação— ou não. “Serve para entender o que é prazeroso para você. Esse conhecimento pode ser passado depois em uma relação a dois.” A médica acrescenta que é o caminho para perceber, atender e confiar nas dicas do corpo.
Isso vai ao encontro de outra descoberta do estudo, que mulheres tendem a atingir mais o orgasmo sozinhas do que em uma relação, principalmente se for heterossexual. Klabunde diz que, apesar de o estudo não ter analisado o motivo desse achado, ela supõe que envolva a dificuldade de concentração em si na presença de outra pessoa, além do encorajamento do parceiro na confiança feminina, o que tende a acontecer mais em relações entre mulheres.
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Informação
Folha de São Paulo