Entenda as três cirurgias que Rebeca Andrade, medalhista olímpica, fez no joelho
Antes de subir no pódio das Olimpíadas de Paris para ganhar ouro no solo, prata no individual geral e no salto, e bronze por equipes, e se tornar a maior medalhista da história do Brasil, a ginasta Rebeca Andrade passou por três cirurgias para corrigir rompimentos no ligamento do joelho direito.
Os ligamentos são tecidos fibrosos fortes que “amarram” os ossos entre si. O ligamento cruzado anterior (LCA) é um dos quatro ligamentos do joelho e fica localizado na parte frontal. Ele liga o osso da panturrilha (tíbia) ao osso da coxa (fêmur).
A principal função do LCA é controlar o movimento de rotação do joelho, além de auxiliar na aceleração e desaceleração do corpo. Ele trabalha em conjunto com outros três ligamentos —cruzado posterior e dois colaterais— para que o joelho não saia do eixo natural.
Em giros e torções muito abruptas, como ocorre na ginástica e no futebol, um ou mais ligamentos podem se romper e causar dor e inchaço intensos. Isso aconteceu com Rebeca três vezes.
A primeira foi em 2015, aos 16 anos, quando rompeu o LCA do joelho direito. Na época, ela ficou fora dos Jogos Pan-Americanos. Dois anos depois, em 2017, teve outra lesão no mesmo local e precisou passar por uma nova cirurgia.
Faltando um ano para as Olimpíadas de Tóquio (ainda não adiada), Rebeca teve que operar o joelho direito pela terceira vez, em 2019.
Segundo o ortopedista Marcus Luzo, chefe do departamento de ortopedia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), quando ocorre um rompimento assim, a pessoa deve procurar atendimento médico imediatamente e uma cirurgia de reconstrução pode ser necessária.
“A reconstrução pode ser feita utilizando o tendão patelar, localizado na frente do joelho, ou os tendões do isquiotibiais, na parte de trás da coxa. A cirurgia é realizada por artroscopia, um procedimento pouco invasivo com o uso de uma câmera”, explica.
Durante o procedimento, são criados túneis no fêmur e na tíbia, onde o enxerto com tendões é inserido para reconstruir o ligamento rompido.
De acordo com Luzo, a cirurgia é muito comum no Brasil em razão da alta frequência de lesões nos ligamentos.
Após a cirurgia, o paciente deve fazer fisioterapia e reabilitação por pelo menos seis meses.
Se não for feita a cirurgia, a lesão pode levar a uma instabilidade persistente no joelho. Isso limita a capacidade de realizar atividades físicas e esportivas.
Luzo alerta que o rompimento pode ocorrer não apenas entre atletas de alto desempenho, mas também no dia a dia em atividades que envolvem torções, como jogar beach tennis ou ao escorregar no chão.
“Por isso é importante fortalecer e alongar os músculos antes de qualquer atividade. Isso ajuda a prevenir pequenos estresses ou lesões. Não significa que vai eliminar os riscos completamente, mas vai ajudar a reduzir as chances de problemas”, diz.
Quais são os principais sintomas de uma lesão no LCA e como evitá-las?
Os sintomas incluem dor intensa, estalido doloroso, sensação de falseio no joelho, inchaço significativo e dificuldade em realizar movimentos de rotação.
A prevenção inclui fortalecer e alongar a musculatura do joelho, realizar trabalho muscular prévio para qualquer atividade física e estar preparado para o esporte ou exercício que será praticado.
Essas recomendações não vão eliminar os riscos completamente, mas ajudam a reduzir ou adiar lesões.
Qual o perfil de pessoa mais afetado por lesões no LCA?
A lesão do ligamento cruzado anterior atinge principalmente atletas, especialmente em esportes de alto impacto que envolvem giros e torções, como a ginástica e o futebol.
Algumas pessoas têm predisposição a romper o LCA, segundo o ortopedista Marcus Luzo. Um dos fatores está relacionado ao formato do osso do fêmur, que pode favorecer lesões.
O aspecto genético também pode interferir, já que algumas pessoas possuem um ligamento mais “frouxo”.
O que fazer após romper o ligamento?
Após o rompimento, é possível caminhar, porém com dificuldade. O paciente pode sentir instabilidade e falseio no joelho, especialmente durante movimentos de rotação. Diante da lesão, é essencial procurar atendimento médico imediatamente.
Exames de raio-x e ressonância magnética podem ser feitos para comprovar o rompimento. Caso confirmado, a cirurgia de reconstrução é indicada.
Como é feito o tratamento para lesões do LCA?
O tratamento geralmente envolve cirurgia para reconstrução do ligamento, seguido de um período de reabilitação que inclui fisioterapia para restaurar a força e a estabilidade do joelho.
A cirurgia é feita utilizando o tendão patelar, localizado na frente do joelho, ou os tendões do isquiotibiais, na parte de trás da coxa.
A artroscopia é a técnica utilizada, um procedimento pouco invasivo com o uso de uma câmera.
O tempo de recuperação varia de seis meses a um ano, dependendo da reabilitação do paciente e do grau da lesão.
O que pode acontecer se a cirurgia para o LCA não for realizada?
Se não for feita a cirurgia, a lesão pode levar a uma instabilidade persistente no joelho, dor crônica e um aumento no risco de outras lesões, como artrose precoce, em razão do desgaste do menisco e da cartilagem.
Isso limita a capacidade de realizar atividades físicas e esportivas.
Informação
Folha de São Paulo