Exame faz diagnóstico de 6 doenças transmitidas por mosquito com uma única gota de sangue
Lançado no último mês, um teste laboratorial promete fazer o diagnóstico conjunto para febre oropouche, febre amarela, Mayaro, dengue, zika e chikungunya, com uma única amostragem de exame de sangue.
Doenças de sintomas semelhantes, como dores no corpo, náuseas e até febre em alguns quadros, até o momento nenhum teste comprovadamente tinha a capacidade de diagnóstico de todos os vírus ao mesmo tempo nos pacientes.
Da rede de laboratórios Sabin, o exame é um PCR (Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real) feito com a amostra do sangue do paciente. De acordo com a marca, o resultado sai em até dois dias úteis no Distrito Federal, onde é a sede do grupo, e em até quatro dias úteis no restante do país.
Infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Evaldo Stanislau de Araújo explica que o PCR é uma técnica que até pode ser complementar à sorologia, e deve ser utilizada no começo de uma infecção, logo no início dos sintomas, porque é capaz de detectar o vírus presente no organismo por até seis dias.
No entanto, se o paciente apresenta sintomas de alguma dessas doenças e decide fazer o teste após uma semana, a indicação é que seja escolhido o exame de sorologia —que consiste na análise do soro, ou seja, dos anticorpos à infecção. “Nesses casos, só com esse tipo de teste é possível pesquisar os anticorpos”, afirma Araújo.
Da mesma forma, o teste de sorologia não é indicado para uma infecção inicial porque, segundo o médico, o diagnóstico pode ser impreciso ou até dar falso-positivo.
Para Araújo, em teoria, um teste que detecte, ao mesmo tempo, os seis vírus de doenças clinicamente semelhantes é muito bom e pode sim representar um avanço, mas ele questiona a necessidade e eficácia do exame para todos os vírus.
“É preciso entender se esse teste tem uma capacidade de detecção igual para todos os vírus, se funciona bem para cada um deles”, diz.
Raquel Stucchi, infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), alerta ainda para a baixa presença de alguns vírus no Brasil, como o causador da febre mayaro —vírus detectado este ano no Norte do país. “Será que vale a pena pagar a mais para ter um teste que detecta uma doença que não é tão comum?”, indaga a especialista.
De acordo com Stucchi, se esses testes forem viáveis em termos de produção e de custo, podem ser de grande valia para a saúde pública do país. “Em especial, sempre que estivermos na presença de um paciente com um quadro febril agudo, principalmente no período de ocorrência das arboviroses [meses mais quentes e chuvosos]”, explica.
Uma detecção precisa de todos os vírus em um único teste, na visão dela, possibilita ainda um atendimento e acompanhamento adequado desses pacientes, diminuindo o risco de agravamento.
O teste é ofertado pelo laboratório de diagnóstico Sabin (preço sob consulta).
Outros laboratórios, como Dasa e Fleury, não informaram possuir testes que detectem os mesmos vírus em um único exame. Ambas as redes afirmaram ainda que informações sobre valores para a detecção de cada uma das doenças está disponível para acesso apenas nos sites das marcas.
Por nota, o Ministério da Saúde afirmou que os testes disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) para diagnóstico das seis arboviroses são o kit triplex molecular, que identifica os vírus dengue, zika, chikungunya e Orov (oropouche); kit molecular para febre amarela; teste molecular duplex para febres oropouche e mayaro; sorologias IgM e IgG (imunoglobulinas G e M) para dengue, zika e chikungunya e kit NS1 para dengue.
Informação
Folha de São Paulo