Genérico do Saxenda deve chegar em breve às farmácias do Brasil; do Ozempic, a partir de 2026
As chamadas canetas emagrecedoras têm se tornado cada vez mais populares. Com poucas contraindicações e sem potencial de dependência, são consideradas um fenômeno por especialistas.
Agora, com a quebra de patente de alguns desses medicamentos, a previsão é de barateamento e maior acessibilidade do tratamento de obesidade e diabetes nos próximos anos por meio de genéricos (produzidos por síntese química) e biossimilares, que são medicamentos biológicos e produzem os mesmos resultados em termos de segurança, qualidade e eficácia a outro já existente e aprovado pelas agências reguladoras.
Conhecido popularmente pelo nome comercial de Ozempic, o princípio ativo semaglutida terá sua quebra de patente em 2026. Já a liraglutida (Saxenda e Victoza) perdeu a patente no Brasil em 2024.
Conforme a Lei de Propriedade Industrial (9.279/96), patentes têm prazo de 15 anos a 20 anos, tempo contado a partir da data do pedido feito ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Depois desse período, podem ser feitas as cópias dos medicamentos livremente.
Ambos os princípios ativos da liraglutida e da semaglutida atuam como análogos do chamado GLP-1, responsável pelo estímulo à liberação de insulina pelo pâncreas após uma refeição.
“Esses remédios agem retardando o esvaziamento do estômago, o que aumenta a saciedade durante as refeições”, afirma Milena Miguita Paulino, especialista em endocrinologia e metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). “Além disso, existe uma ação diretamente no hipotálamo para reduzir o apetite e aumentar a saciedade —o que os torna muito populares no tratamento de patologias como o diabetes mellitus tipo 2 e a obesidade“.
Heraldo Marchezini, diretor-presidente da empresa brasileira de biotecnologia Biomm, afirma que a companhia fechou acordos com as farmacêuticas Biocon (Índia) e Kexing (China) para comercialização de biossimilares de semaglutida e liraglutida no Brasil.
Com o término das patentes, a comercialização desses dois produtos dependem da aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e da definição do preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
O preço do Ozempic praticado atualmente nas farmácias nacionais gira em torno de R$ 900 a R$ 1.367, por exemplo, e de acordo com o diretor-presidente da Biomm, “esse é um mercado que, após o fim da patente e início da comercialização, terá muitos níveis de preço”.
A presença de genéricos e biossimilares de remédios que já se mostraram seguros é extremamente positivo no quesito de reduzir custos e aumentar a acessibilidade à população, especialmente diabéticos, afirma Maria Edna de Melo, endocrinologista da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade).
Ainda será uma medicação que requer mais investimento quando comparada a outros tratamentos para diabetes e obesidade mais antigos, esclarece Paulino, mas a chegada de genéricos abre um caminho necessário de tornar os tratamentos mais acessíveis.
Outros medicamentos
Além dos genéricos e biossimilares, o mercado brasileiro espera receber outras marcas de canetas injetáveis e medicamentos orais em um futuro próximo.
A previsão para a chegada do Wegovy, apresentação comercial da semaglutida para tratamento de obesidade, é no segundo semestre deste ano, provavelmente entre agosto e setembro. A diferença entre as duas apresentações é que o Wegovy permite aplicações de doses maiores, necessárias para atingir maior perda de peso.
Já a tirzepatida tem aprovação pela Anvisa para tratamento de diabetes mellitus tipo 2, com nome comercial de Mounjaro. A autorização para a comercialização da apresentação para tratamento de obesidade (Zepbound) já foi solicitada à Anvisa, com previsão de liberação ao longo deste ano, esclarece Paulino.
Apesar da aprovação para uso em pacientes com diabetes tipo 2, a tirzepatida ainda não está disponível nas farmácias brasileiras. O uso por algumas pessoas no Brasil tem sido feito a partir da importação da medicação por canais específicos que trazem a medicação de países em que ela já é comercializada, como os Estados Unidos.
Ainda em fase de estudo, uma nova substância é apresentada com a promessa de ser mais efetiva do que a semaglutida usada nas canetas contra a obesidade: a amicretina.
Diferentemente dos medicamentos com as canetas injetáveis, a amicretina está em fase de testes na forma oral.
“É importante lembrar que toda a medicação deve ser prescrita por um médico e haver uma indicação. O paciente usando por conta própria pode não saber titular a dose da medicação de forma correta”, explica a endocrinologista da Abeso Maria Edna de Melo.
Informação
Folha de São Paulo