Geraldo Júnior (MDB) sela candidatura em Salvador com apoio do PT e aposta na polarização
O vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior (MDB), oficializou neste domingo (4) sua candidatura à prefeitura de Salvador com o apoio do PT e apostando em uma estratégia de replicar localmente a polarização nacional entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Geraldo entra na disputa com o respaldo dos petistas para enfrentar o prefeito Bruno Reis (União Brasil), cujo grupo político comanda a prefeitura de Salvador desde 2013.
Em discurso, Geraldo Júnior afirmou que Salvador precisa ter uma distribuição igualitária da riqueza, prometeu investimentos na periferia e criticou Bruno Reis, a quem chamou de covarde e de “ave de mau agouro” pelas críticas que faz à gestão estadual.
“Dá para fazer Salvador ser diferente. Não dá mais para Salvador ser a capital do desemprego, não dá mais para ser Salvador a capital que lidera os índices de pobreza. […] Não dá mais ter a prefeitura onde covardemente o prefeito se esconde e é a quinta capital em endividamento”, afirmou.
A convenção, realizada na Arena Fonte Nova, foi animada por grupos de percussão e teve a presença do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e dos senadores Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (PT), além do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT).
Não houve presença ou mensagem do presidente Lula (PT), mas antes do discurso foi exibido um vídeo com imagens do mandatário e trechos de áudio de uma entrevista concedida em julho na qual ele diz que torce para que Geraldo Júnior seja eleito prefeito.
A candidatura foi oficializada com o apoio de dez partidos – MDB, PT, PC do B, PV, PSB, PSD, Avante, Podemos, Solidariedade e Agir – que devem ter cerca de 350 candidatos a vereador. A petista Fabya Reis, que era secretária estadual de Desenvolvimento Social, será a candidata a vice-prefeita.
Nesta eleição, a estratégia foi de unir todas as siglas aliadas ao governador em uma única candidatura. É a primeira vez que isso acontece em Salvador nos 18 anos de gestões petistas na Bahia.
A expectativa é que a disputa replique o cenário de polarização estadual entre dois principais grupos políticos da Bahia, liderados pelo PT e pelo União Brasil. Também há um movimento para tentar nacionalizar a disputa após o apoio do PL de Jair Bolsonaro à reeleição do prefeito.
A divisão foi reforçada em discursos e entrevistas do governador Jerônimo Rodrigues, que disse neste domingo que Salvador precisa se libertar: “Queremos uma cidade em que as mulheres possam ter seus direitos respeitados, que as crianças possam ter creches e escolas, em que a juventude possa ter cultura, tem assistência social”, afirmou.
Com 54 anos, Geraldo Júnior é advogado, radialista. Foi vereador em Salvador por quatro mandatos e presidente da Câmara Municipal entre 2019 e 2022. Ingressou na política seguindo os passos do pai, conhecido como Super Geraldo, que também foi vereador na capital baiana.
Foi aliado de Bruno Reis e ACM Neto, de quem foi secretário municipal. Em 2022, chegou a anunciar apoio ao ex-prefeito na eleição para governador da Bahia, mas rompeu com o aliado para compor a chapa com Jerônimo, então secretário estadual de Educação.
Sua adesão ao grupo governista e ascensão ao posto de vice foi articulada em 2022 pelo senador Jaques Wagner com irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima, ex-deputados que controlam o MDB da Bahia.
A escolha de Geraldo Júnior como candidato representou uma vitória de Jaques Wagner na disputa interna com Rui Costa. Ao longo do ano passado, o ministro sinalizou a aliados sua preferência pela pré-candidatura de José Trindade (PSB), presidente da estatal Conder.
Em setembro, contudo, Trindade desistiu da candidatura alegando problemas de saúde. Desde então, Rui se afastou das articulações para definição do candidato da base do governador em Salvador.
A expectativa, inclusive, era de ausência do ministro da convenção. Em entrevista à imprensa antes do evento, Jerônimo Rodrigues disse que o ministro alegou uma agenda particular, ligou para Geraldo Júnior e pediu desculpas. Um vídeo com uma mensagem do ministro foi exibido, mas ele chegou à Fonte Nova e discursou quando a convenção se encaminhava para o final.
A expectativa entre os aliados do governador é que Geraldo Júnior consiga polarizar a disputa com o prefeito Bruno Reis, evitando que eleitorado de esquerda apoie a candidatura do sindicalista Kleber Rosa (PSOL), que tenta atrair o eleitorado órfão de uma candidatura própria do PT.
Outros três nomes da esquerda concorrem à prefeitura: Eslane Paixão (UP), Victor Marinho (PSTU) e Giovani Damico (PCB).
O campo da direita conseguiu uma unidade em torno de Bruno Reis, que terá o apoio de siglas como o Novo e o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. A reeleição do prefeito é considerada crucial para coesão do grupo político liderado pelo ex-prefeito ACM Neto, derrotado na disputa pelo governo em 2022.
Com o mote de campanha “dá para ser diferente”, Geraldo Júnior tem feito críticas à gestão do prefeito, sobretudo em áreas como mobilidade urbana, políticas para a primeira infância e meio ambiente.
Na convenção, ele deu destaque ao discurso ambiental prometendo a criação de novas áreas verdes em Salvador, com críticas à atual gestão. Mas adversários e até mesmo aliados de partidos de esquerda admitem que o vice-governador possui fragilidades em relação ao tema ambiental.
Quando esteve à frente da Câmara Municipal, Geraldo comandou a aprovação de leis que afrouxaram regras de proteção ambiental na cidade e foram contestadas pelo Ministério Público. Também ajudou a aprovar a autorização para a venda de outros terrenos na capital baiana. Em entrevistas recentes, o vice-governador tem afirmado que mudou sua visão sobre o tema.
Folha de São Paulo