Inflação desacelera na Argentina e atinge 4% em julho, menor marca desde 2022
A inflação na Argentina foi de 4% em julho, a cifra mensal mais baixa dos últimos dois anos e meio e a terceira consecutiva abaixo de 5%, informou nesta quarta-feira (14) o Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos).
O IPC (Índice de Preços ao Consumidor) alcançou nos últimos 12 meses 263,4%, um dos níveis mais altos do mundo, enquanto nos primeiros sete meses do ano chegou a 87%.
Os aumentos foram impulsionados pelos setores de restaurantes e hotéis (6,5%), bebidas alcoólicas e tabaco (6,1%) e habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis (6%).
Após a explosão inflacionária de 25,5% em dezembro, impulsionada pela forte desvalorização do peso argentino no início do governo de Javier Milei, o IPC foi moderando-se paulatinamente até chegar a 4,2% em maio, 4,6% em junho e o atual 4%, que ficou à beira de contrapor a marca de janeiro de 2022 (3,9%).
O governo argentino obteve no primeiro semestre deste ano o primeiro superávit fiscal desde 2008 com a implementação de um drástico corte de orçamento, paralisação de obras públicas, dezenas de milhares de demissões, congelamento de fundos para educação e saúde e redução de aposentadorias e ajudas sociais.
“Quando olhamos o mapa de atividade, as luzes verdes cada vez ganham um pouco mais de terreno, e tecnicamente a recessão viveu seu pior momento em abril e maio”, celebrou Milei nesta quarta-feira (14) diante de empresários.
O mandatário ultraliberal destacou o trabalho de seus ministros para alcançar “uma macroeconomia ordenada para dar uma solução definitiva à inflação; um profundo corte do gasto público e uma atenção obsessiva em desregular e devolver a liberdade a cada um dos argentinos”.
Tema encerrado
O porta-voz presidencial Manuel Adorni considerou, à véspera da divulgação dos dados, que “a inflação é um tema que tecnicamente está encerrado”, ao acrescentar que o governo fez “tudo o que precisava para solucioná-la”.
“O que resta é tempo para ver essa inflação desmoronar”, afirmou. Em contraste, para o economista Ricardo Delgado, diretor da consultoria Analytica, “dar por encerrada a inflação é demais para este momento da economia”.
“Há uma desaceleração da inflação devido a várias questões como a atividade econômica em níveis muito baixos. A recessão sempre produz queda da inflação”, explicou à Rádio Continental.
O consumo e a atividade econômica despencaram desde dezembro devido à desvalorização do peso e aos cortes orçamentários. Segundo a Câmara Argentina da Média Empresa, a venda no varejo caiu 15% em julho, em relação ao mesmo período de 2023, e 17% no acumulado do ano.
De acordo com dados da Seguridade Social, mais de 600 mil pessoas deixaram de contribuir nos últimos seis meses, o que poderia significar uma perda de emprego ou uma transição para a informalidade laboral.
O governo contabiliza 115 mil perdas de empregos comprovadas no setor privado, mas assegura que em junho foi registrado o primeiro aumento.
O economista e deputado da oposição Martín Tetaz apontou que “depois de ter caído sistematicamente até o mês de maio, a inflação está há três meses em torno de 4% mensal (60% anualizado)”.
“O patamar é consistente com o aumento da diferença cambial e a queda real dos depósitos a prazo”, escreveu na rede social X.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma contração de 3,5% na economia argentina para 2024, antes de uma recuperação de 5% para 2025.
Folha de São Paulo