Economia

José Paulo Kupfer: Delfim foi personagem complexo; errará quem fizer julgamento simples dele

Entendia ser o crescimento econômico o objetivo fundamental da economia, tendo sido, por isso mesmo, um crítico persistente dos juros altos na economia brasileira. A propósito dos resultados desiguais do “milagre” — muito crescimento, mas com os resultados concentrados em poucos —, Delfim negou a vida inteira ser autor da célebre frase atribuída a ele, segundo a qual era preciso fazer o bolo crescer antes de distribuí-lo.

Do AI-5 à redemocratização

Homem forte na economia da ditadura militar, seu nome está indelevelmente gravado no AI-5 (Ato Institucional-5), do qual nunca mostrou arrependimento e era o último signatário vivo. O AI-5, que deu passagem a prisões, torturas e assassinatos de adversários políticos do regime, franqueou a adoção das medidas que levaram ao sucesso temporário da política econômica. Mas Delfim também soube transitar para a democracia, com voz ativa e respeitada no debate político e econômico depois da redemocratização, chegando a ser conselheiro informal de Lula, principalmente quando o atual presidente exerceu seu segundo mantado, entre 2005 e 2010.

De origem humilde, vindo de uma família de imigrantes italianos, Delfim deixou marcas relevantes como pesquisador e professor universitário, contribuindo decisivamente para a inclusão da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis, da Universidade de São Paulo) entre os centros acadêmicos brasileiros de excelência em economia. Mas também destacou-se como político, tendo sido eleito deputado federal por cinco vezes, inclusive com participação de peso na Constituinte de 1988.

Foi ainda embaixador na França, entre 1975 e 1978, uma espécie de exílio dourado imposto pelo então presidente, general Ernesto Geisel, que não gostava de Delfim. Voltou, no governo do general João Figueiredo, o último da ditadura, como ministro da Agricultura, e depois do Planejamento, numa substituição tumultuada do economista Mário Henrique Simonsen. Ficou no posto, comandando a economia, até a transferência de governo para José Sarney, em 1985, no início da redemocratização.

Já tendo sido acusado de corrupção nos tempos de embaixador em Paris, Delfim foi citado em duas fases da Operação Lava Jato. Mas a defesa do ex-ministro alegou que as acusações mencionavam serviços legais da consultoria, que manteve desde que deixara o governo Figueiredo.

Matéria: UOL Economia

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo