Economia

Juros altos e busca por segurança impulsionam crédito privado em 2025, aponta XP

Com juros ainda elevados e um cenário macroeconômico desafiador, o crédito privado segue em ascensão no Brasil. O avanço da classe reflete uma combinação de fatores como maior estabilidade regulatória, preferência por ativos mais seguros e o atual patamar de juros, que continua atraente para a renda fixa, aponta relatório “De frente com as gestoras – O que esperar dos fundos de crédito em 2025”, elaborado pela XP.

Apesar da cautela diante das incertezas globais, as gestoras consultadas veem oportunidades no horizonte. O relatório aponta que a busca por títulos de alta qualidade e o aumento do interesse em produtos estruturados têm sido acompanhados por uma maior ênfase na originação de novos ativos.

O consenso entre os gestores entrevistados é a preferência pelo crédito estruturado, além da expectativa de que fundos com horizontes mais longos continuarão gerando excesso de retorno (alpha) em relação ao CDI.

O levantamento ouviu seis gestoras atuantes no mercado de crédito privado brasileiro: Augme, Capitânia, JiveMaua, JGP, Valora, Root Capital e a própria XP Asset.

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Panorama do mercado de crédito

Os fundos de renda fixa continuam liderando a captação na indústria brasileira, impulsionados pelos juros elevados. No entanto, os FIDCs têm ganhado destaque, com captação de R$ 80 bilhões nos últimos 12 meses e projeções otimistas de crescimento em 2025.

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Já as emissões de crédito privado subiram significativamente em 2024, reflexo da demanda aquecida por novos ativos, ainda que os custos de captação para as empresas tenham aumentado. A expectativa é de que as novas regras do CMN para CRIs e CRAs tenham impacto mais contido do que no ano anterior.

A compressão dos spreads também marcou o ano passado, impulsionando emissões ao permitir refinanciamentos a taxas mais baixas. No fim de 2024, a alta na percepção de risco fiscal trouxe uma reversão temporária, mas desde então os spreads em CDI voltaram a cair.

Apesar disso, os níveis atuais, próximos a 1,80%, acendem o alerta sobre prêmios que podem não refletir adequadamente os riscos de crédito. O relatório reforça a importância de uma análise criteriosa, sobretudo para emissores com maior risco.

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Visão da renda fixa

A renda fixa segue relevante como estratégia de proteção e retorno, mesmo em um ambiente de alta volatilidade. A aversão ao risco tem levado investidores a concentrarem alocações em ativos pós-fixados com liquidez diária, embora esses entreguem retornos mais modestos.

O relatório aponta que outras classes da renda fixa podem oferecer retornos mais atrativos, desde que com maior atenção à diversificação e ao prazo de resgate.

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Com taxas reais elevadas, o “carrego” (a manutenção do papel na carteira ao longo do tempo) se torna mais interessante do que ganhos pontuais de capital. A diversificação entre títulos soberanos, crédito privado e investimentos internacionais é apontada como caminho para mitigar riscos e melhorar o retorno ajustado ao perfil de cada investidor.

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A resiliência do crédito estruturado

O mercado de crédito privado se destacou em 2024 trazendo consigo uma janela de fechamento expressivo de spreads – especialmente nos papéis AAA – beneficiando os fundos de liquidez diária.

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No entanto, o início de 2025 trouxe um cenário mais desafiador, com dispersão de retornos, reabertura de spreads e maior necessidade de seletividade por parte dos gestores. Em vez da estratégia conservadora que funcionou no passado recente, o mercado agora exige prazos mais longos para resgate e maior diversificação para capturar oportunidades, mostra a análise.

Fundos high yield têm mostrado resultados interessantes ao oferecer retornos mais atrativos, mesmo com menor liquidez. A diferença de performance entre fundos líquidos e os com estrutura para investir em ativos mais arriscados tem sido significativa. Enquanto os fundos líquidos enfrentam dificuldade de manter resultados, os high yield têm se beneficiado das assimetrias do mercado, com ganhos consistentes.

A análise comparativa entre dois portfólios – um 100% alocado em fundos de crédito líquido e outro com 70% em fundos líquidos e 30% em high yield – mostra que a diversificação com risco calibrado faz diferença, aponta o relatório. Nos últimos 16 meses, a carteira mista apresentou ganhos consistentes e recorrentes acima do CDI, enquanto o portfólio exclusivamente líquido apresentou retornos voláteis e, por vezes, inferiores à taxa básica.

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A evidência reforça a tese de que a liquidez tem custo – e que ele se manifesta em ciclos de normalização monetária.

O relatório aponta ainda que para o investidor que pode abrir mão de parte da liquidez – mesmo que em um pedaço pequeno do portfólio – a adição de fundos high yield funciona como uma forma de diversificar a carteira dentro do ambiente do crédito, o que permite também alcançar maiores retornos.

Não se trata de substituir a totalidade da alocação da parcela de crédito líquido, mas de sofisticar a alocação e aproveitar um ciclo que favorece a resiliência do crédito estruturado. Mais do que escolher um fundo isoladamente, o desafio passa a ser montar uma combinação eficiente de estratégias.

Infomoney

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