Juros prontos para subir, Natura tenta recuperar Avon e o que importa no mercado
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Juros prontos para subir
Os comandantes do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo, deixaram claro nos últimos dias que os juros podem voltar a subir.
Essa decisão reverteria parte dos cortes feitos desde o ano passado, quando a taxa básica Selic saiu de 13,75% para 10,50% neste ano.
↳ Galípolo esclareceu nesta segunda-feira (12) que a alta está “na mesa”, ao contrário do que foi interpretado por parte dos analistas depois da última decisão do BC.
↳ Campos Neto fez referência à fala e reforçou a ideia de que um nome indicado por Lula fará o que tiver que ser feito para a inflação atingir a meta.
Por que importa: Gabriel Galípolo é cotado para substituir Roberto Campos Neto na presidência da instituição a partir de 2025. Ele já faz parte do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão colegiado que decide os juros, como diretor de Política Monetária.
Ele foi indicado pelo presidente da República, de quem já recebeu elogios como “menino de ouro”.
↳ O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça que Lula revelará o indicado ao comando da autoridade monetária nas próximas semanas.
Incertezas. Como Lula faz críticas reiteradas ao atual patamar de juros, as declarações de Galípolo são acompanhadas por lupa.
Há quem suspeite que ele pode ser mais leniente com a inflação, baixando os juros mesmo sem espaço para isso.
↳ A fala desta segunda-feira, porém, contribuiu para o receio diminuir. O real se valorizou, e o dólar caiu 0,90%, a R$ 5,46.
Tensão. Dúvidas quanto ao compromisso do governo de zerar o déficit das contas, críticas do Planalto à independência do BC e os juros dos Estados Unidos ainda em patamar elevado contribuíram nos últimos meses para disparada do dólar, que chegou a ultrapassar R$ 5,70.
As expectativas sobre inflação refletiram isso, com alta para 2024 e 2025, o que exigiria –em tese – juros em alta para levá-las à meta de 3%.
Entenda: as taxas de juros definidas pelo Banco Central funcionam como um patamar mínimo, um piso, para toda a economia. Elas são usadas principalmente para controlar a inflação. Se há risco de alta de preços, sobem.
↳ Quando a taxa Selic cai, o consumo é estimulado e a economia aquece porque fica mais fácil financiar compras e pegar empréstimos.
↳ Os juros também são decisivos sobre os investimentos. Veja quais os especialistas recomendam com a Selic a 10,5%.
Natura tenta recuperar Avon
A Avon Internacional, marca de cosméticos que pertence à Natura, pediu recuperação judicial nos Estados Unidos, um dos seus principais mercados.
↳ As dívidas somam US$ 1,3 bilhão (R$ 7,09 bilhões).
A empresa está em maus lençóis após ser acusada de vender produtos que faziam mal à saúde, como a linha de talcos, e ser condenada a pagar multas.
Entenda: o grupo Natura&Co controla diretamente a marca no Brasil e na América Latina, com operações integradas depois da fusão anunciada em 2019.
No restante do mundo, a relação é indireta. O grupo é o maior acionista da Avon Products Internacional, mas a atividade é separada.
↳ Foi essa a empresa que pediu recuperação judicial, e não a brasileira. Além dos EUA, ela é forte no leste europeu, Rússia e Turquia.
Como funciona a recuperação judicial: quando o pedido é aceito pela Justiça, há suspensão do pagamento de dívidas, proteção contra sentenças judiciais e uma negociação com os credores é aberta.
O processo nos EUA é conhecido como “Chapter 11”. Aqui, às vezes, é chamado pela sigla RJ. Ele não significa falência, e muitas vezes é usado como uma reorganização das finanças.
Relembre: a Natura, uma das empresas mais valiosas do Brasil, comprou a Avon no auge de um processo de expansão internacional em 2019.
Anos antes, as marcas de cosméticos Aesop e a The Body Shop já haviam sido alvo da companhia.
Mas… Ela decidiu vender as duas marcas em 2023 e iniciou uma mudança de estratégia.
Neste ano, anunciou que considerava separar ainda mais a estrutura da Avon Internacional, como duas empresas diferentes na Bolsa. Apesar de operações à parte uma da outra, hoje as finanças são todas consolidas como uma só.
↳ Essa ampliação da di manteria o controle da Natura sobre a Avon, mas ajudaria a refletir melhor o valor de mercado de cada uma para os investidores.
A separação total, no entanto, foi colocada de lado por enquanto. A alternativa é a RJ, que pode ter efeitos parecidos.
Como? O processo determina que os bens da Avon sejam colocados em leilão. A ideia da Natura&Co é reincorporar esse patrimônio sob seu guarda-chuva dando um lance.
As dívidas restantes transformariam a Avon Internacional numa espécie de empresa “oca”, sem patrimônio. Isso faria a reputação da empresa respingar menos na Natura até que as finanças da empresa endividada sejam sanadas.
Porém… Para dar certo, a Justiça do estado americano de Delaware precisa aceitar o pedido.
↳ Em 2023, a Johnson&Johnson teve um pedido negado após uma estratégia parecida, em que criou uma empresa do zero para separar as dívidas.
Impactos. A Natura teve prejuízo líquido de R$ 859 milhões no segundo trimestre de 2024, um aumento de 17,4% em relação ao ano passado. A justificativa da empresa foram R$ 725 milhões para a reestruturação em andamento na Avon.
Ricos, muito ricos
A Suécia, um dos frios países nórdicos da Europa, enfrentou dificuldades semelhantes aos vizinhos nos últimos anos na economia, como inflação e juros em alta depois da pandemia. A recuperação hoje até está lenta, mas o país tem vantagens para ultrapassar as nações vizinhas
Os suecos têm um forte setor tecnológico, que inclui o Spotify, Skype, Klarna e King Digital Entertainment.
↳ A economia do país é gigante comparada com a população de 10 milhões de pessoas, menos que a da cidade de São Paulo.
↳ O PIB (Produto Interno Bruto) soma US$ 597 bilhões (R$ 3,258 trilhões), o 12º maior da Europa.
O que explica. O sucesso sueco pode ser atribuído a políticas públicas dos anos 1990 que facilitaram o acesso a computadores e à internet para a população, criando uma “geração de engenheiros” que impulsionou o setor de tecnologia.
O país também se beneficia do sistema de bem-estar social, que oferece segurança para que empreendedores assumam riscos, e de investimentos robustos em pesquisa.
- “Eles têm algo —particularmente em inovação— que outros países europeus realmente não têm na mesma medida,” afirma Jacob Kirkegaard, pesquisador do German Marshall Fund.
Exceção. Diferentemente dos EUA e da China, que abrigam gigantes como Google e Alibaba, a Europa não tem uma cultura das mais inovadoras no cenário de tecnologia. Uma das poucas empresas significativas é a holandesa ASML, líder global no setor de semicondutores.
A dependência de inovações estrangeiras preocupa, inclusive, autoridades que temem efeitos econômicos e sociais.
↳ As restrições legais às big techs americanas como a Meta são um exemplo.
A Suécia se destaca ao produzir mais “unicórnios” (empresas que alcançam valor acima de US$ 1 bilhão) per capita do que qualquer outro país europeu, exceto a Estônia.
Outra empresa sueca com forte em tecnologia é a Saab, desenvolvedora dos aviões de defesa Gripen.
Dica. Nesta edição da FolhaMercado, indiquei uma série da Netflix que mostra como o Spotify foi criado no frio país nos anos 2000, longe da Califórnia, lar da maioria das big techs.
Em números
Um gráfico semanal explica o que acontece na economia
em R$ bilhões
Golpes com pix e boletos falsos foram os crimes digitais com maior prejuízo à população no Brasil. Em um ano, eles somaram R$ 25,5 bilhões em perdas.
↳ O valor é maior até que o dos roubos e furtos de celular, um dos maiores problemas de segurança pública nas grandes cidades.
Os crimes virtuais no Brasil totalizaram R$ 71,4 bilhões de prejuízo em um ano, e o impacto total de delitos sobre o patrimônio foi de R$ 186,2 bilhões.
Os números são de uma pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Folha.
Por que importa: a violência no país custa 4% do PIB às empresas, que têm altos gastos com segurança privada, segundo o instituto de pesquisa em economia Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
As despesas impactam os preços dos bens e serviços e jogam contra o crescimento econômico.
Mais sobre a pesquisa: ela questionou entrevistados sobre os crimes digitais dos quais foram vítimas e os danos financeiros causados. O prejuízo foi estimado com base no valor médio das perdas e no tamanho da população.
Ao todo, 2.508 pessoas com mais de 16 anos foram entrevistadas em todas as regiões do Brasil entre os dias 11 e 17 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Folha de São Paulo