Política

Líder em eleição de BH tem atuação apagada como deputado e evita Lula e Bolsonaro

Uma postura tímida, pouco presente e avessa a polêmicas. É dessa forma que deputados e assessores que frequentam o dia a dia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais caracterizam a atuação do deputado estadual e apresentador de TV Mauro Tramonte (Republicanos), 63.

Líder em pesquisas eleitorais à Prefeitura de Belo Horizonte, ele tem repetido um discurso contrário à polarização política nacional para justificar a gama de apoiadores.

Entre eles, estão o governador Romeu Zema (Novo) e o ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), que trocaram críticas públicas quando disputaram o Governo de Minas em 2022, mas agora frequentam o mesmo palanque.

“Eu não quero polarizar com nada. Eu não quero brigar com o lado esquerdo, com o lado direito. Vou polarizar com um ônibus cheio, com UPA [Unidade de Pronto Atendimento] lotada, com esse trânsito maluco que nós temos em Belo Horizonte“, disse o pré-candidato após convenção do Republicanos que formalizou sua chapa, que terá como vice a ex-secretária estadual Luisa Barreto (Novo).

O discurso de Tramonte vai no sentido oposto ao embate entre Zema e Kalil em 2022, quando o governador, vencedor no primeiro turno, fez campanha para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e o ex-prefeito, para o presidente Lula (PT).

Questionado pela Folha sobre em quem votou nas eleições de 2022, Tramonte disse ser de centro e que votou na coligação de seu partido nas eleições presidenciais —o Republicanos esteve na chapa de Bolsonaro.

“Na minha vida já votei em Lula, já votei em Bolsonaro, já votei em Kalil, já votei em Zema, mas acho que isso interessa pouco neste momento”, disse o deputado via assessoria.

Ainda que seja evitada pelo apresentador, a polarização deve ser evocada na eleição à capital mineira por outros candidatos, como o deputado estadual Bruno Engler (PL), apoiado por Bolsonaro, e o deputado federal Rogério Correia (PT), apadrinhado de Lula.

No primeiro debate entre os postulantes à Prefeitura de Belo Horizonte, na quinta-feira (8), Tramonte concentrou suas críticas na gestão do atual prefeito da cidade, Fuad Noman (PSD). Quando questionado acerca da aliança para sua chapa, ele disse que todos os candidatos procuraram ter o apoio de Zema ou Kalil e que ambos são políticos de experiência que somam à sua candidatura.

Nascido em Poços de Caldas, no sul de Minas, o apresentador ainda carrega o sotaque da região, que se assemelha ao do interior de São Paulo. Na cidade, o bacharel em direito foi servidor público e árbitro de futebol, mas se destacou à frente do programa Câmera Verdade, de perfil policialesco.

Em 2008, mudou-se para Belo Horizonte para assumir o comando do Balanço Geral, da Rede Record. À frente do programa por 16 anos, ele era o apresentador mais longevo da atração no país até deixá-la em maio para se dedicar à pré-candidatura.

A audiência expressiva do Balanço Geral, que chegou a liderar a audiência da sua faixa horária da TV aberta na capital mineira, alçou o apresentador para uma votação recorde entre os deputados estaduais de Minas em 2018, quando foi escolhido por 516 mil eleitores do estado.

A marca viria a ser quebrada na eleição seguinte por seu agora adversário Bruno Engler, que recebeu 637 mil votos —Tramonte foi o quinto mais votado, com 110 mil votos.

Ao mesmo tempo em que deu popularidade ao apresentador, o programa virou motivo de críticas de colegas de Tramonte na Assembleia. A principal delas era a de que, nas sessões ordinárias, que começam às 14h, ele marcava presença apenas após o fim do programa, às 15h20, dez minutos antes do fim das reuniões.

Os encontros das duas comissões em que o apresentador é membro tiveram que ser transferidos para as 16h para ele participar. Além de ser presidente da comissão de turismo e gastronomia, setores dos quais é próximo na cidade, ele é membro da comissão de cultura.

Apesar de ter atuação considerada tímida no Legislativo, o apresentador foi alçado aos holofotes da política em um episódio envolvendo o senador Cleitinho (Republicanos).

Em 2019, quando ambos eram deputados estaduais, Cleitinho foi repreendido pela mesa diretora da Assembleia por aparecer com a camisa do América-MG no plenário.

Em discurso no dia seguinte, o então deputado criticou Tramonte, ainda que sem citar seu nome.

“Respeito o regimento, agora falar da minha conduta, que tem que ter postura? Tem um deputado que agora está apresentando um programa de TV ao vivo. Quando chega aqui, a reunião está acabando, ele bate o ponto e pede questão de ordem”, afirmou Cleitinho na época.

O episódio gerou uma animosidade entre os dois e estaria entre os motivos para o apoio de Cleitinho, que é do mesmo partido de Tramonte, a Bruno Engler nas eleições deste ano. Também conta para o apadrinhamento a relação pessoal que o senador tem com o deputado do PL, responsável por apresentá-lo a Bolsonaro.

Tramonte afirmou, via assessoria, que seu trabalho como deputado deve ser medido pelo resultado. Ele diz ter apresentado mais de mil proposições e 78 projetos de lei, dos quais 18 foram aprovados. Também afirma ter destinado R$ 17 milhões em emendas parlamentares para Belo Horizonte.

“Como muita gente, sempre tive dois empregos. E sempre dei conta do recado”, disse, em nota.

Em relação à atividade parlamentar, Tramonte é descrito como uma pessoa isolada, que não participa das principais articulações da Casa.

Apesar de ser considerado da base de Zema, ele foi contra a orientação do governo em duas votações recentes que dividiram os deputados aliados.

Na adesão ao RRF (Regime de Recuperação Fiscal), defendida pela administração, ele votou contra. No reajuste salarial superior às forças de segurança em relação ao resto do funcionalismo, foi a favor, apesar de o governo ser contrário.

O apresentador ainda é responsável por ser autor de uma lei que permite a promoção fora do estado de atividades de cultura, gastronomia e turismo mineiras, prática que antes era proibida.

Ele também é o responsável por uma proposta de emenda à Constituição para o tombamento da Serra do Curral, área que é alvo de polêmicas em relação à mineração no local. Proposta na legislatura anterior, o texto não foi adiante.

Folha de São Paulo

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