Lula e Delfim tinham admiração mútua, apesar das divergências
O importante é que seu Frias gostou da matéria, eu me safei de perder o emprego e, como tantos outros colegas de ofício, me tornei amigo dele. Nos cruzamos muitas outras vezes em restaurantes, aeroportos, eventos empresariais, e ele sempre já com uma tirada nova na ponta da língua para detonar alguma figura conhecida.
Fui reencontrá-lo muito tempo depois, no começo dos anos 2000, nos corredores do Palácio do Planalto, onde eu trabalhava como secretário de imprensa do presidente Lula durante o primeiro mandato.
Da primeira vez, estranhei a ilustre presença, cujo nome não entrava na agenda e passava longe dos jornalistas. Logo me daria conta de como Lula gostava de conversar com pessoas que pensavam diferente dele. Desde os tempos de sindicato, não fugia de um debate de ideias. Foi assim que ele levou para o primeiro governo ministros que tinham feito campanha para José Serra, o adversário no segundo turno, como Luiz Furlan, na Indústria e Comércio, e Roberto Rodrigues, na Agricultura.
Delfim tornou-se um conselheiro voluntário não remunerado dos governos Lula porque os dois tinham uma admiração mútua, simplesmente.
Hoje, novamente presidente, Lula lembrou isso na nota oficial sobre o falecimento de Delfim Netto, que tanto criticava quando foi ministro nos tempos da ditadura e o metalúrgico nordestino despontava como líder sindical combativo no ABC paulista, nos anos 70, ao denunciar manipulação de índices de inflação pelo ministro da Fazenda para reivindicar maiores reajustes salariais.
“Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente (…) Delfim participou muito das políticas públicas naquele período. Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes.”
Matéria: UOL Economia