Médica comenta doença infecciosa de André Marques e alerta: ‘Sequelas prolongadas’

Em entrevista à CARAS Brasil, a médica infectologista Carolina Lázari informa que arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti não para de avançar
O ator e apresentador André Marques (45) revelou, em rede nacional, os sintomas que enfrentou ao contrair chikungunya. Na ocasião, ele descreveu dores intensas, febre alta e um mal-estar generalizado que o derrubaram por dias, deixando-o quase paralisado em seus movimentos. O caso, que chamou atenção do público e colocou o nome da doença nos holofotes, ilustra o impacto que essa arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti pode causar.
Em entrevista à CARAS Brasil, a médica infectologista Carolina Lázari informa que desde sua chegada ao Brasil, em 2014, a chikungunya não para de avançar. Começou com surtos localizados na Bahia e no Amapá e, desde então, ganhou força no Nordeste, Rio de Janeiro e mais recentemente, no Sudeste, atingindo Minas Gerais e Espírito Santo.
Ainda de acordo com ela, em 2024, os números saltaram: foram quase 45% mais casos em relação ao ano anterior — sinal claro de que a doença está em plena expansão, tanto em número de infectados quanto na extensão geográfica. Neste ano, as maiores incidências estão concentradas no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, reforçando o alerta para a interiorização e disseminação do vírus por diferentes regiões do país.
“Diferente da dengue, cuja fase mais grave costuma ocorrer no início da infecção, a chikungunya preocupa pela capacidade de deixar sequelas prolongadas. As dores articulares, típicas da infecção, podem persistir por meses e, em cerca de 40% a 50% dos pacientes, se tornar crônicas, com quadros de inflamação e até lesões permanentes nas articulações”, explica a infectologista, acrescentando que esses sintomas de longa duração são mais frequentes em mulheres e em pessoas com mais de 45 anos. “Além de provocar sofrimento, esse impacto compromete a rotina de trabalho, o convívio social e sobrecarrega os serviços de saúde”, completa.
Outro fator preocupante, segundo a especialista, é que, no Brasil, observamos uma taxa de óbitos na fase aguda da chikungunya superior à registrada em outros países — especialmente por complicações cardíacas e neurológicas precoces. “Esses casos fatais ocorrem, em sua maioria, entre crianças, idosos e pessoas com comorbidades, o que reforça a importância da vigilância, do diagnóstico adequado e do cuidado direcionado a esses grupos de maior risco”, diz Carolina.
“E é exatamente neste cenário que uma boa notícia surge: a chegada de uma vacina contra a chikungunya. Desenvolvida pela farmacêutica Valneva em parceria com o Instituto Butantan, a vacina utiliza vírus vivo atenuado e demonstrou altíssima eficácia na produção de anticorpos — acima de 99% —, oferecendo esperança para frear a transmissão da doença”, emenda.
A médica destaca que essa vacina funciona como se fosse uma infecção natural, mas sem os riscos da doença. “Ela estimula o organismo a produzir anticorpos de forma duradoura, protegendo contra a infecção. Assim como outras vacinas de vírus vivo atenuado, ela induz uma imunidade ampla, embora isso exija atenção dos médicos na hora de interpretar exames laboratoriais — afinal, pessoas vacinadas apresentarão anticorpos mesmo sem ter tido a doença”, alerta.
Por enquanto, a vacina está liberada para maiores de 18 anos. Estão em andamento estudos para expandir a imunização a adolescentes e, futuramente, crianças. Em gestantes e imunossuprimidos, o uso ainda precisa de mais dados de segurança, já que se trata de um vírus vivo, ainda que atenuado.
“Vale lembrar que, apesar da vacina, o diagnóstico das arboviroses — como dengue, zika e chikungunya — continua essencial, especialmente porque muitas vezes esses vírus circulam simultaneamente. Os testes laboratoriais, como PCR e sorologias, seguem sendo fundamentais para confirmar o agente causador e orientar o tratamento correto”, fala Carolina.
A expectativa é que a chegada da vacina também incentive a população a se informar mais sobre a chikungunya, seus sintomas e formas de prevenção. “Assim como no caso de André Marques, que dividiu com o público sua experiência, a visibilidade do tema ajuda a reforçar a importância de se proteger e de buscar atendimento médico ao primeiro sinal de febre alta e dores articulares intensas, principalmente nas épocas mais quentes e chuvosas do ano, quando o mosquito transmissor encontra as condições ideais para se proliferar”, ressalta.
“Enquanto a vacinação em larga escala não acontece, manter os cuidados para eliminar focos de água parada e evitar a proliferação do Aedes aegypti continua sendo a principal estratégia para prevenir a chikungunya e outras doenças transmitidas pelo mosquito”, finaliza a médica infectologista.
‘UMA DOR INSUPORTÁVEL’
André Marques revelou, em uma gravação no programa Bem Estar, da TV Globo, em 2022, que teve febre chikungunya. “Parecia que estava aleijado, eu não conseguia me mexer. Eu estava com uma dor insuportável. Eu não conseguia levantar para fazer pipi. Foi um negócio bem grave”, disse ele, acrescentando que sofreu fortes dores nas articulações e perdeu a forças. “A inflamação anda no seu corpo. Eu tinha uma dor na mão que não conseguia segurar um copo, não estou exagerando. Eu não conseguia segurar o celular e mandar uma mensagem”, falou.
O artista ainda contou que não deu muita importância para os primeiros sintomas da doença e pensou que era apenas uma gripe. “O grande erro, foi que eu acordei um dia com dor nenhuma. Estou bom! E dois dias depois a dor vem de novo extremamente forte”, destacou.
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