O voto contra Moro e a gramática da má-fé das Porcinas. Não aprendem nada!
Não se constrangeu em servir àquele cuja eleição ele próprio tornou viável ao condenar sem provas o único que teria condições de bater o outro nas urnas. Assim, Lula foi para a cadeia; Jair Bolsonaro, para Planalto, e ele, Moro, para o Ministério da Justiça. E ali começou a mover as asas para ousadias maiores. Mas as coisas começaram a dar errado. O ponto de inflexão foi a Vaza Jato. Adicionalmente, passou a ser hostilizado pelo chefe, que farejou a sua ambição e percebeu nele um diferencial incômodo: era incensado por parte considerável da imprensa — aquela mesma que o Jair abominava e que abominava o Jair…
Moro caiu em desgraça, mas não saiu de mãos abanando. Elegeu-se senador pelo Paraná — a “conja”, deputada por São Paulo. Pouco, sim, para as suas grandes ambições, que não se cumprirão. Há de se dar por satisfeito se conseguir segurar o mandato. Tudo indica que o TRE-PR não lhe será adverso. No TSE, não se sabe. Por coisa menos grave, a tal “Juíza Selma”, eleita senadora pelo Mato Grosso, voltou pra casa. E agora começo a voltar ao início deste texto. Sim, o ex-juiz ainda tem uma legião de viúvas e viúvos na imprensa, especialmente no colunismo. As “Porcinas” sonham com “Moro Santeiro”, ainda que sua atuação parlamentar não se distinga dos extremistas de direita mais abjetos.
GRAMÁTICA DO ABSURDO
E só isso explica títulos como “Desembargador que foi indicado por Lula vota para condenar Moro”. Esse “que foi indicado por Lula” é o que gramática chama “oração subordinada adjetiva restritiva”. Serve, como o nome diz, para restringir ou delimitar o sentido de um termo antecedente — no caso, “desembargador”.
Assim, o dito-cujo fica aprisionado na camisa de força do “nomeado (termo impróprio) por Lula”, de modo que o quer que faça fica condicionado a essa questão, muito especialmente seu voto, que, então, independente e técnico não pode ser. Quando não se apelou a uma oração, os mesmos termos foram empregados como adjuntos do núcleo do sujeito: “Desembargador nomeado por Lula vota contra Moro”. Tem-se, é evidente, o mesmo sentido restritivo.
Cada uma escreva o que quiser. E eu também. Opine como quiser. E eu também. É mau jornalismo! Sade, ou quem estivesse em seu lugar, NÃO TERIA COMO NÃO SER ESCOLHIDO (em vez de “nomeado”) pelo presidente, de uma lista tríplice elaborada pelo TSE.
Diga-se com todas as letras: o que se busca, ao colar a expressão restritiva ao nome de Sade, é sustentar que seu voto não é isento nem técnico e que está, pois, a serviço do presidente, a quem deveria sua assunção ao cargo. Além de mau jornalismo, é malandragem intelectual. Então ele só provaria a sua isebção se votasse contra a cassação? É sério? Inventaram uma “independência” que só admite a defesa de Moro? Acrescente-se: mais de um petista já ouviu do próprio Lula que o prudente é manter distância desse embate; que o ex-juiz é irrelevante para o governo e que a eventual torcida de gente graúda do partido pode passar a impressão de retaliação — embora a decisão, qualquer uma, seja da Justiça Eleitoral. “Ah, mas o PT assina uma das ações”. Fato. Mas o PL assina a outra.
Matéria: UOL Notícias