OMS aponta vírus da chikungunya e da dengue como de ‘preocupação global’
A OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou, na semana passada, uma lista com famílias de patógenos que podem ser motivo de preocupação global. Foram mencionados como altos os riscos para o vírus causador da chikungunya, da dengue e da varíola dos macacos.
A lista cresceu em relação às versões anteriores do documento, de 2017 e 2018. Permaneceram os patógenos causadores da Ebola, Zika, febre de Lassa, vírus Nipah e os da família Coronaviridae, do coronavírus.
Os vírus que causam chikungunya, dengue, varíola dos macacos, varíola e diferentes influenza, como os das gripes, foram incluídos, assim como bactérias como a Klebsiella pneumoniae, superbactéria que causa pneumonia.
O documento envolveu mais de 200 cientistas de mais de 50 países, que avaliaram as evidências relacionadas a 28 famílias virais e um grupo central de bactérias, abrangendo 1.652 patógenos. O relatório foi apresentado durante a Cúpula Global de Preparação para Pandemias 2024, evento organizado pelo Ministério da Saúde, Fiocruz e Cepi (Coalizão para Promoção de Inovações em prol da Preparação para Epidemias).
As três evidências consideradas para avaliar o potencial de um patógeno causar uma emergência nacional ou uma pandemia são os padrões de transmissão, a virulência e a disponibilidade de ferramentas médicas para lidar com a doença.
Os especialistas afirmam que a lista de “patógenos prioritários” ajudará organizações a decidir onde concentrar seus esforços no desenvolvimento de tratamentos, vacinas e diagnósticos.
O documento defende um quadro científico para melhorar a preparação para futuros surtos, emergências de saúde pública de interesse internacional e pandemias.
O médico sanitarista Claudio Maierovitch, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), afirma que a presença do vírus da chikungunya na lista aponta que a maior aposta que o país pode fazer no momento contra o patógeno é a vacina.
“Algumas estratégias para enfrentá-lo são promissoras, de forma análoga ao que acontece com a dengue, mas os resultados concretos até agora são muito pequenos.”
Em dezembro de 2023, o Instituto Butantan enviou à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) um pedido de registro para uso da vacina contra a chikungunya no Brasil. O imunizante foi desenvolvido pelo órgão em parceria com a farmacêutica franco-austríaca Valneva.
“Até que isso aconteça, precisamos investir mais em comunicação, acesso aos serviços de saúde, capacitação dos profissionais e disponibilidade de testes para diagnóstico. É frequente o diagnóstico equivocado entre dengue, Zika e chikungunya”, diz.
O Brasil enfrentou, este ano, sua maior epidemia de dengue da história, com mais de 5 mil mortes confirmadas.
O vírus da varíola dos macacos, também incluído este ano, causou um surto global em 2022 e continua a se espalhar em zonas do continente africano. Este mês, o comitê de emergência da OMS se reuniu para avaliar se é necessário declarar o nível de alerta mais alto para a epidemia de varíola dos macacos, diante da possibilidade de uma nova propagação internacional dentro e fora da África.
Uganda registrou os seus dois primeiros casos da doenla na semana passada, no distrito de Kasese, na fronteira ocidental, nas cidades de Mpondwe e Bwera.
Quênia e Burundi anunciaram um e três casos, respectivamente, no mês passado. A República Democrática do Congo notificou 11 mil casos em 20 de julho, incluindo 450 mortes. Ruanda e Costa do Marfim também relataram casos de varíola dos macacos nos últimos dias.
A lista da OMS inclui ainda o “patógeno X”, aquele que pode causar uma nova pandemia, mas que não é conhecido pela comunidade científica até agora.
Por isso, o documento destaca a importância de aumentar investigações em muitas regiões do mundo, particularmente locais com escassez de recursos e elevada biodiversidade, que ainda são pouco monitorados e estudados. A pesquisa afirma ainda que a mudança climática pode alterar os padrões de transmissão.
Informação
Folha de São Paulo