Onda anti-Trump fortalece esquerda global e anima governo Lula

A eleição na Austrália, no último final de semana, foi a mais recente na qual a esquerda saiu vitoriosa graças a uma reação dos eleitores a Trump. O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, do partido trabalhista, vinha atrás nas pesquisas de intenção de voto, mas acabou conquistando um segundo mandato. A disputa foi contra Peter Dutton, que concorreu como um admirador de Trump. Poucos dias antes, a reviravolta eleitoral fora no Canadá: o partido liberal, de centro-esquerda, se manteve no poder. Antes da chegada de Trump à Casa Branca, os conservadores eram os favoritos.
O cientista político Ian Bremmer, fundador do Eurasia Group, diz que Trump “catalisou uma tendência unificadora contra a direita” em duas eleições muito importantes, no Canadá e na Austrália. Para ele, no entanto, ainda é preciso olhar caso a caso e as especificidades de cada nação. “No Brasil poderíamos facilmente ver o indicado por Bolsonaro para a eleição se saindo melhor, como consequência de sentimentos anti-establishment”, afirma Bremmer.
“Se vai ajudar ou atrapalhar no Brasil? Cedo demais para dizer. Neste momento, se a economia no Brasil cair, a maioria das pessoas culpa Lula, não Trump”, diz Ian Bremmer, da Eurasia. “Agora, se começarmos a ver a economia brasileira começar a desempenhar mal especificamente porque Trump está mirando o Brasil? Até agora ele não fez isso porque os EUA tem um superávit comercial com o Brasil e não déficit, mas é possível, à medida que nos aproximamos da eleição, que Trump decida punir Lula, especificamente, e vá atrás do Brasil”, diz o presidente da Eurasia.
México também vira exemplo
Além das eleições da Austrália e do Canadá, há outros dados notados por especialistas que acompanham como Trump tem fortalecido políticos de centro-esquerda e discursos de resistência ao trumpismo.
A popularidade recorde da presidente do México, Cláudia Sheinbaum —85% dos mexicanos aprovam seu governo— também é colocada na conta de Trump. A esquerdista tem conseguido resistir aos ataques do americano. Na Noruega, o partido trabalhista atravessou sua popularidade mais baixa em 2022 e tinha aprovação de menos de 20% da população no início deste ano. Em meados de fevereiro, o partido passou a liderar as intenções de voto dos noruegueses para as eleições parlamentares de setembro.