Economia

Parceria com governo fará de negócios das favelas empresas exportadoras

Celso Athayde, 61, morou em três favelas e ainda se lembra da época em que era camelô em Madureira, no Rio de Janeiro. Hoje, é uma das principais vozes em defesa do poder das comunidades e fechou uma parceria com uma agência do governo federal para que cerca de 300 empresas das favelas se tornem exportadoras, abrindo portas para milhares de negócios que hoje concentram nas próprias comunidades emprego e renda.

Como surgiu essa ideia?
As favelas consomem R$ 202 bilhões por ano, mas também são grandes centros produtores. Há milhares de negócios nas mais de 5.000 comunidades do país. Muitas dessas empresas estão prontas para as exportações, mas sequer pensam no assunto. Henry Ford começou na garagem da casa dele. Estimular iniciativas como essas é mudar a matriz econômica das favelas.

Como assim?
As favelas são vistas como pontos de exclusão e marginalização, áreas de informalidade e crime. Esses negócios que se consolidam, geram empregos na própria comunidade. Eles evitam que os moradores se desloquem demais para trabalhar e permitem que usem o tempo que sobra para estudar.

Quantas empresas estão aptas para exportar?
Começamos a fazer um levantamento com essa parceria que fechamos com a Apex [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos] para avaliar o potencial. Mas posso dizer que há 300 nesse estágio. Mas, para ter ideia, só na última edição da ExpoFavela de São Paulo, tivemos 20 mil inscrições [de empresas] e selecionamos 600. Queremos definir com a Apex a melhor estratégia, quais empresas entrarão nessa primeira etapa.

Quando devem iniciar as primeiras vendas?
Esperamos que no início do próximo ano.

É uma iniciativa fechada para as favelas que você representa?
Será uma plataforma para todas as comunidades.

Esses empreendedores estão preparados?
Na favela se fala favelês e não a linguagem do asfalto. Nem a palavra empreendedor se usa. Então, é importante ter essa qualificação para falar com investidores. Por isso, pensamos em fechar uma parceria com o Sebrae, a CNI e a Dom Cabral, que, aliás, já criou a primeira escola de negócios da favela.

Há interesse de investidores?
Na última rodada de negócios em São Paulo, atraímos R$ 25 milhões com 37 fundos de investimentos.


Raio-X | Celso Athayde, 61

Autodidata, fundou a Central Única das Favelas (Cufa), organização presente em 41 países, e a Favela Holding, guarda-chuva de empresas de cunho social. É um agitador cultural. Criou a Liga Internacional de Basquete de Rua, o festival CineCufa, com produções das comunidades, e eventos de breakdance e rap

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Folha de São Paulo

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