Por que a Pfizer precisa urgentemente de uma intervenção ativista
Por muitos critérios, a Pfizer parece ser o alvo ideal para uma intervenção ativista.
A empresa farmacêutica dos EUA teve ganhos extraordinários durante a pandemia graças à sua vacina contra a covid-19 desenvolvida com a BioNTech. As vendas ultrapassaram US$ 100 bilhões (R$ 553,6 bi) em 2022.
Mas à medida que a demanda pela vacina diminuiu, as vendas também caíram. As tentativas de desenvolver um medicamento para obesidade foram um fracasso. As ações da Pfizer caíram mais de 50% desde o pico no final de 2021, representando uma perda de US$ 177 bilhões (R$ 979,7 bi) em valor de mercado.
A empresa vale menos agora do que antes da pandemia —apesar de ter gasto mais de US$ 60 bilhões (R$ 332,1 bi) em uma série de aquisições nos últimos dois anos.
Não é de se admirar que a Starboard Value tenha se envolvido. O investidor ativista acumulou uma posição de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bi) na Pfizer e abordou executivos como o ex-chefe da Pfizer, Ian Read, e o ex-diretor financeiro Frank D’Amelio, para ajudar. Mas os planos do fundo de investimentos ainda não foram revelados.
O problema é que não há soluções rápidas para os problemas da Pfizer. A pandemia proporcionou um ganho inesperado único na vida. As vendas mais que dobraram e o lucro líquido triplicou entre 2020 e 2022.
Esse sucesso estabeleceu um padrão elevado que a Pfizer não conseguiu alcançar. Sua avaliação de 11 vezes os lucros futuros está em linha com sua média histórica de 10 anos. No entanto, é uma fração das 42 vezes da farmacêutica rival Eli Lilly. Essa diferença reflete o fracasso da Pfizer até agora em encontrar um tratamento anti-obesidade para seu portfólio.
Albert Bourla, chefe da Pfizer desde 2019 escolhido a dedo por Read para ser seu sucessor, fez aquisições caras. Isso inclui a Seagen, biotecnologia de câncer deficitária comprada no ano passado por US$ 43 bilhões (R$ 238 bi), incluindo dívidas. A Pfizer espera que os medicamentos da Seagen gerem US$ 10 bilhões (R$ 55,3 bi) em vendas anuais até 2030. Isso se compara aos US$ 58,5 bilhões (R$ 323,7 bi) que a Pfizer arrecadou no ano passado.
A grande aposta de Bourla em medicamentos contra o câncer ainda pode dar certo. Mas a paciência dos investidores está acabando, especialmente depois que a Pfizer retirou abruptamente o Oxbryta, um tratamento para doença falciforme, do mercado no mês passado. O medicamento era a peça central na aquisição de US$ 5,4 bilhões (R$ 29,8 bi) da Global Blood Therapeutics em 2022.
O retorno sobre o capital da Pfizer caiu de mais de 19% em 2022 para 2,2% no ano passado, de acordo com dados da S&P Global Market Intelligence. Em resposta, Bourla anunciou grandes cortes de custos — US$ 4 bilhões (R$ 22,1 bi) este ano e mais US$ 1,5 bilhão (R$ 8,3 bi) entre 2025 e 2027.
A participação ativista poderia impor uma disciplina útil. Mas abandonar o desenvolvimento de portfólio não é uma opção em farmacêuticas inovadoras. A Pfizer já simplificou seus negócios, desmembrando a saúde do consumidor e sua unidade de medicamentos fora de patente. Às vezes, é mais fácil identificar os sintomas de uma doença do que prescrever uma cura eficaz.
Folha de São Paulo