Prefeito e rival em Salvador mudam declaração racial de pardo para branco após efeito ACM Neto
O prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), e seu principal adversário na disputa pela prefeitura, o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), deixaram de se declarar como pardos e afirmaram ser brancos no registro de candidatura no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A mudança na declaração racial acontece dois anos depois de o assunto se tornar um dos centros do debate da campanha eleitoral na Bahia. Na ocasião, o então candidato a governador ACM Neto (União Brasil) se declarou pardo, se tornando alvo de críticas e uma enxurrada de memes nas redes sociais.
A decisão de se declarar pardo gerou desgastes e fez o candidato ser chamado de “afroconveniente”. Em uma entrevista, o ex-prefeito de Salvador questionou os critérios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que considera pardos e pretos como negros.
Em 2020, o TSE definiu que a distribuição dos recursos dos fundos partidário e eleitoral deve ser proporcional ao total de candidatos negros do partido, instituindo uma cota de pelo menos 30% dos recursos para campanhas dos que se declararam pretos ou pardos. A medida começou a valer em 2022.
Bruno Reis havia se declarado branco nas eleições de 2014, quando disputou a eleição para deputado estadual. Em 2016 e 2020, quando concorreu a vice-prefeito e prefeito, se declarou pardo. Agora, voltou a se afirmar branco.
Em nota, o prefeito destacou as mudanças na legislação eleitoral em 2021 e afirmou que decidiu se autodeclarar como branco para não ser incluído entre beneficiados com a parcela do fundo eleitoral destinada a candidatos negros.
“Como não iria utilizar esse benefício e para não restar qualquer tipo de dúvidas, tomei a decisão de mudar, mesmo tendo me declarado pardo na última eleição que disputei em 2020”, afirmou o prefeito.
Geraldo Júnior, que se declarou pardo nas eleições de 2016, 2020 e 2022, disse que antes tratava deste tema de forma protocolar no registro das suas candidaturas e que agora seu entendimento sobre a questão evoluiu.
“Se eu sempre fui reconhecido pela sociedade como homem branco e nunca enfrentei qualquer tipo de discriminação ou preconceito racial, não fazia sentido continuar me autodeclarando como pardo”, afirmou.
Dentre os demais candidatos à prefeitura, Kleber Rosa (PSOL) e Eslane Paixão (UP) se declararam pretos. Victor Marinho, candidato do PSTU, se declarou branco.
Folha de São Paulo