Profissões bem pagas enfrentam maior exposição à IA, diz estudo; isso pode ser bom ou ruim
Trabalhadores de profissões bem pagas, como engenheiros de software e cientistas de dados, estão mais expostos ao impacto da inteligência artificial do que aqueles com salários mais baixos, segundo a mais recente pesquisa sobre a tecnologia e o mercado de trabalho.
Quase um quinto dos funcionários veria pelo menos metade de suas tarefas potencialmente afetadas pelos avanços em aprendizado de máquina, de acordo com uma análise de mais de 900 ocupações publicada na revista Science nesta quinta-feira (20).
O artigo destaca a incerteza sobre o impacto da IA no mercado de trabalho. O FMI expressou “profundas preocupações” nesta semana de que a IA generativa poderia aumentar a desigualdade e perturbar o trabalho, inclusive em setores altamente qualificados.
“A exposição [à IA] pode ser boa ou ruim para os trabalhadores”, disse Daniel Rock, coautor do artigo e professor assistente de operações, informações e decisões na Universidade da Pensilvânia.
“Neste estágio, é muito difícil para nós dizer quais serão os efeitos de longo prazo na demanda por trabalho”, disse. “Mas a medida de exposição indica para onde olhar”.
Rock e seus colegas da OpenAI, criadora do ChatGPT, e do Centre for the Governance of AI, organização sem fins lucrativos do Reino Unido, examinaram 923 ocupações de um banco de dados de características de trabalho e trabalhadores.
Eles usaram pessoas e o modelo de linguagem GPT-4 treinado para analisar se a tecnologia poderia reduzir pela metade o tempo que uma pessoa levaria para concluir uma tarefa, sem redução na qualidade.
Eles concluíram que 18,5% dos trabalhadores estavam em empregos nos quais 50% ou mais de suas tarefas estavam expostas dessa forma, inclinando-se para ocupações mais bem remuneradas.
Os empregos mais afetados incluíam engenheiros de blockchain, gerentes de dados clínicos, especialistas em relações públicas e analistas quantitativos financeiros. Ocupações sem tarefas expostas à IA incluíam mecânicos de motocicletas, operadores de martelo vibratório e pedreiros.
“Trabalhadores do conhecimento processam informações, e o que esses grandes modelos de linguagem estão fazendo é potencializar nossa capacidade de processar informações de maneiras diferentes”, disse Rock.
A pesquisa ecoa conclusões semelhantes de outros estudos. De acordo com um estudo do governo do Reino Unido, profissionais do setor de finanças da City de Londres seriam os mais afetados por aplicações de IA como reconhecimento de imagens, modelagem de línguas, tradução e reconhecimento de fala.
O artigo na Science foi uma adição significativa porque estimou a escala do efeito da IA para vários empregos, disse Sarah Bana, professora assistente de ciência da gestão na Universidade Chapman.
A pesquisa sugere que a tecnologia terá um impacto diferente da informatização, que afetou principalmente empregos de remuneração menor com funções repetitivas.
“Há muito que precisa acontecer para que essas estimativas sejam concretizadas, como os autores afirmam, mas a pesquisa sugere impactos muito profundos sobre como fazemos o que fazemos”, disse Bana, que não esteve envolvida nesta pesquisa, mas trabalha com Rock em outros projetos.
Embora o estudo forneça uma “visão interessante de cenários futuros hipotéticos”, ele mostrou a necessidade de mais pesquisas sobre as “necessidades e preocupações” dos funcionários, disse Mhairi Aitken, pesquisadora de ética no Alan Turing Institute.
“É crucial que estudos como esse sejam complementados por insights sobre experiências reais com a IA”, disse Aitken.
Folha de São Paulo>