Sexo ainda é um tabu, principalmente quando o assunto é prazer feminino
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Nesta quarta-feira, dia 31 de agosto, foi celebrado o Dia do Orgasmo, data para conscientizar sobre a saúde sexual. Sexo ainda é um tabu, principalmente quando o assunto é prazer feminino. O autoconhecimento é importante para pessoas com vulvas. No entanto, nem todas foram estimuladas a buscar esse tipo de exploração.
“Os principais tabus ainda são os mesmos: uma mulher ser livre, conhecer a si mesma, ser dona do seu próprio prazer e expressar isso”, diz a sexóloga Natali Gutierrez em entrevista à Folha.
Gutierrez, que também é CEO da Dona Coelha, marca de sexual wellness, afirma que quando uma mulher é segura de si e não aceita menos do que o mínimo, isso também é visto como tabu. “Ser mulher, por si só, parece ser um grande tabu”, completa.
É só pensar na cultura pop, que letrou diversas gerações sobre como funcionam as relações sexuais do ponto de vista masculino. Além disso, há o fácil acesso à pornografia, que também acaba disseminando informações sobre sexo que contemplam majoritarimente os homens.
A representação do sexo, especialmente em produções de massa, com representações femininas estereotipadas, além da falta de diálogos construtivos sobre sexualidade, reforçam visões estigmatizadas sobre o tema.
O cenário audiovisual tem avançado nessa questão, mas ainda é raro ver cenas de sexo que priorizem o prazer feminino. Isso levanta uma questão crucial: como mulheres e outras pessoas com vulva podem aprender a explorar seus corpos se há tão pouca representação dessa dimensão da sexualidade?
Embora possa parecer trivial mencionar a televisão, é ela que funciona como uma referência inicial para crianças e adolescentes. É comum que certos pensamentos persistam em nossa mente ou que sejamos indiretamente influenciados por ele.
Comportamentos vistos repetidamente tendem a ser reproduzidos, o que também ocorre em relações interpessoais. Diante disso, como jovens mulheres vão entender que seu prazer é uma prioridade, se a maioria das representações negligencia esse aspecto?
Portanto, voltamos ao cerne da discussão: a necessidade de datas como o Dia do Orgasmo para abordar certos temas que ainda são silenciados e considerados tabus com um enfoque em conteúdos culturais e informativos. Os avanços dos movimentos de liberação sexual feminina, visíveis desde os anos 1960, ainda não são adequadamente representados nas produções de consumo em massa.
É claro que não se pode atribuir a responsabilidade pela educação sexual exclusivamente ao conteúdo de massa, considerando a falta de estrutura em nossa sociedade para abordar essa questão de forma abrangente, como nas escolas. A discussão, neste contexto, limita-se apenas à forma de representação.
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Uma pesquisa, conduzida por acadêmicos nos EUA e Canadá, mostrou que mulheres heterossexuais experimentam menos orgasmos em comparação a homens e mulheres lésbicas. Homens relataram consistentemente taxas mais altas de orgasmo em todas as faixas etárias, variando de 70% a 85%, enquanto as mulheres variaram de 46% a 58%.
A discrepância mais acentuada foi observada em encontros casuais e entre mulheres lésbicas e heterossexuais, estas últimas alcançando taxas mais baixas principalmente devido a práticas sexuais que frequentemente se concentram menos em formas de estimulação favoráveis ao orgasmo feminino.
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A cantora norte-americana Chappell Roan é um fenômeno nas redes sociais e tornou-se ídolo LGBTQIA+. Ela lançou seu disco de estreia, “The Rise and Fall of a Midwest Princess”, em 2023, e rompeu a bolha do pop. Roan canta sobre relacionamentos e sexo, sem pudores e de uma forma facilmente relacionável com o foco em mulheres e feminismo.
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Informação
Folha de São Paulo