Situação na Venezuela cria dificuldade de comunicação ao governo brasileiro
Após as eleições da Venezuela no domingo (28), as redes sociais foram dominadas por comentários relacionados tanto ao processo eleitoral quanto às ações e pronunciamentos de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Ainda naquele domingo, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que é o órgão eleitoral do país, anunciou que Maduro foi o vencedor das eleições. Desde então, há uma instabilidade no xadrez político global e a comunicação se torna elemento fundamental nessa disputa.
Assim que o anúncio foi realizado pelo órgão eleitoral, Rússia e China reconheceram Maduro como vencedor das eleições, enquanto países como Brasil, Estados Unidos e Espanha passaram a cobrar publicamente pela divulgação das atas eleitorais para que os resultados pudessem ser verificados.
As pesquisas de intenção de voto apontavam para uma vitória do candidato da oposição Edmundo Gonzáles.
O governo brasileiro ficou em uma posição delicada, uma vez que precisa lidar com cautela com essa situação, principalmente em decorrência das questões diplomáticas que envolvem os dois países e também os organismos internacionais.
Nesse cenário, essa posição virou alvo de ataque nas redes sociais, ainda mais após países vizinhos como Chile, Argentina e Uruguai terem questionado a vitória de Maduro. A situação piorou ainda mais após a nota dos Estados Unidos reconhecendo a vitória da oposição.
No monitoramento realizado pela Palver, a principal narrativa contra o governo é de que há alinhamento ideológico entre Lula e Maduro, e que o governante brasileiro não é apoiador da democracia. Nos grupos públicos de WhatsApp, uma das mensagens que mais se repete é a de que “as eleições na Venezuela foram fraudadas, assim como as brasileiras”.
Diferentemente do usual, nesse caso das eleições venezuelanas há uma grande quantidade de links do Instagram sendo enviadas nos grupos de WhatsApp, e os vídeos contém não apenas repúdio às ações de Maduro, como também ataques ao TSE e a Alexandre de Moraes.
Muitos usuários nos grupos de direita aproveitaram a situação e novamente levantaram dúvidas sobre a integridade das urnas eletrônicas, alegando que Lula agora enfrenta um paradoxo, pois se confirmar a vitória de Maduro estaria apoiando um ditador, mas caso questione as eleições estará confirmando que é possível existir fraude nas urnas.
A presença de Celso Amorim na Venezuela também foi alvo de ataques da direita, sendo interpretada por alguns como endosso ao governo de Maduro. A entrevista de Amorim na quinta-feira (1º) repercutiu negativamente nos grupos por não ter sido “enfático” ao ser perguntado sobre a apresentação das atas eleitorais.
O ex-presidente Jair Bolsonaro aproveitou a situação e gravou um vídeo para os partidários do PL questionando os acordos municipais em que membros de seu partido estão buscando se coligar com o PT. Bolsonaro alega que esse tipo de aliança não será aceita e o PT é apoiador de Maduro, e por essa razão não pode haver qualquer tipo de costura política envolvendo os dois partidos.
Nos grupos de WhatsApp também resgataram um vídeo em que Lula expressa apoio a Maduro para as eleições presidenciais de 2013 e afirma que o mandatário venezuelano se “destacou brilhantemente na construção de uma América Latina mais democrática e solidária”. Esse vídeo repercute com diferentes edições, mas sempre procurando vincular Lula com governos autoritários.
Nos grupos de esquerda, há duas principais linhas, sendo a primeira uma explicação histórica sobre a crise econômica da Venezuela e que as sanções dos EUA seriam as grandes responsáveis pela situação atual, o que reflete também no ânimo da população.
A segunda linha, mais conspiratória, aponta que a CIA estaria por trás dessa instabilidade política na Venezuela em conluio com a oposição e que o verdadeiro interesse em jogo são as reservas de petróleo.
A situação do governo se complica na medida em que não consegue passar uma mensagem assertiva e simples sobre a questão da Venezuela, enquanto a oposição é consistente ao condenar efusivamente as ações de Maduro.
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Folha de São Paulo>