Saúde

Suplementar colágeno é o segredo contra o envelhecimento da pele?

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Suplementos de colágeno são vendidos como solução para pele, cabelo e unhas. Eles vêm ganhando espaço no mercado, mas deixam a dúvida: será que é preciso investir na suplementação?

Já adianto aqui parte da resposta: faltam estudos científicos robustos que comprovem a eficácia da ingestão oral de colágeno para esses fins. Mas vamos entender melhor.

O que é o colágeno: uma proteína que fornece suporte estrutural para os tecidos do corpo humano. Está presente na pele, nos ossos, nos tendões e nos ligamentos.

  • Por isso, ele também é recomendado por alguns médicos para doenças das articulações. Mas, nesta edição, vamos discutir a suplementação para fins dermatológicos.

“É a proteína que dá mais firmeza e sustentação para os tecidos”, explica Marcelle Nogueira, médica dermatologista e coordenadora do Departamento de Geriatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).

↳ Nogueira é pesquisadora na USP (Universidade de São Paulo), com estudos relacionados à suplementação oral e ao envelhecimento.

À medida que a idade avança, a produção de colágeno nos tecidos cai, o que diminui a firmeza da pele.

  • Estima-se que mulheres, a partir dos 20 anos de idade, percam cerca de 1% da sustentação da pele ao ano. E essa queda fica mais intensa depois da menopausa.

  • Isso também afeta os homens, mas numa menor proporção.

E aí que aparece a lacuna, que o mercado da estética abraçou: por que não suplementar esse colágeno que o corpo não produz tanto quanto antes? Bom, porque a ciência não comprova essa eficácia da ingestão oral.

De acordo com a médica, o tema é confuso até para quem é da área. “Não é tão claro, às vezes, nem para meus colegas dermatologistas, porque tem muita informação que não é científica, nem de qualidade, até vinculada como propaganda pela indústria”, diz.

Por quê? A maior parte dos estudos sobre suplementação de colágeno que trazem efeitos e resultados na dermatologia são feitos em animais ou células, segundo Nogueira.

“Esse tipo de estudo, chamado pré-clínico, é importantíssimo, mas a grande questão é que a gente não pode extrapolar o que acontece numa cultura de célula dentro do laboratório pra um ser humano complexo. E também não pode extrapolar o que acontece, por exemplo, em ratos pra um ser humano”, afirma.

E tem mais: o colágeno oral é extraído da pele de animais, como boi, porco e peixe. A partir desse macerado, se obtém aminoácidos, que são a menor unidade de uma proteína. Os três principais aminoácidos que formam o colágeno desses suplementos para pele são: glicina, prolina e hidroxiprolina.

Ao tomar o suplemento, você ingere os aminoácidos, eles passam pelo sistema digestivo, são absorvidos e vão pro sangue, mas… “não temos evidência de que esse conjunto de aminoácidos vai chegar até a pele e se reconstruir no formato de colágeno”, explica a dermatologista. Nada garante que eles não fiquem perdidos pelo caminho.

Além de tudo isso… Parte dos estudos são financiados pela indústria farmacêutica, o que pode influenciar nos resultados. Foi o que mostrou uma revisão sistemática com meta-análise de 23 estudos publicada no American Journal of Medicine em maio.

↳ Pesquisas que não receberam financiamento de empresas farmacêuticas não revelaram efeito dos suplementos de colágeno na melhoria da hidratação, elasticidade e rugas da pele, enquanto os que receberam financiamento mostraram efeitos significativos.

A conclusão, após analisarem também a qualidade dos estudos, foi que não há evidência clínica que dê respaldo à suplementação para prevenir ou tratar o envelhecimento da pele.

O que funciona, então? procedimentos estéticos eficazes, de acordo com Nogueira, como bioestimuladores de colágeno, lasers e ultrassons microfocados.

E, claro, uma alimentação adequada é essencial. “O ideal seria adquirir tudo a partir da dieta e não precisar de suplementação. Ter um bom aporte de proteína via oral é importantíssimo para que o próprio organismo possa produzir essas proteínas”, diz a dermatologista.

Curiosidade: um suplemento que fornece proteínas de maior valor biológico é o whey protein, explica Nogueira. Ele é rico em aminoácidos essenciais, principalmente a leucina, que o corpo não consegue produzir.

“Vejo, às vezes, pacientes gastando dinheiro com esses suplementos caríssimos de colágeno, ao invés de comer carne, peixe, ovo, leite, lentilha… Se, na correria do dia a dia, não conseguirem um aponte proteico necessário, podem adquirir pelo suplemento, mas o de melhor valor biológico seria o whey protein e não o colágeno oral”, afirma.

Por fim, há um fator crucial que merece atenção: a radiação solar. Ela é a maior responsável pelo envelhecimento visível da pele.

Então, em vez de gastar dinheiro com suplementos de colágeno, a solução mais simples pode ser: uma alimentação saudável com boa quantidade de proteínas, muito protetor solar e fugir do sol sempre que possível.


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Informação

Folha de São Paulo

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