Tranças africanas devem ser lavadas pelo menos uma vez na semana; veja outros cuidados
As tranças são uma tradição cultural importante entre pessoas negras, e a chave para manter os fios saudáveis envolve escolher técnicas apropriadas e seguir uma rotina de cuidados capilares.
A digital influencer Raquel Mendes, 23, começou a usar tranças em 2017. Desde então, costuma fazê-las a cada três meses. Para ela, o principal cuidado é dormir com touca de cetim, mas existem outras recomendações para manter o cabelo saudável.
Segundo Luisa Vasconcelos, sócia do ateliê Negô Tranças e Afins, em São Paulo, as tranças trazem praticidade, mas é preciso ter atenção com o cabelo natural. Não é saudável, por exemplo, ficar três meses ou mais com o cabelo trançado e é preciso lavar pelo menos uma vez por semana para evitar odor e caspas. Também deve-se dar preferência a shampoos sem cor, sulfato e sal.
É importante ainda escolher um dia ensolarado para lavar as tranças, para que os fios possam secar completamente. Caso contrário, o cabelo pode ficar com um cheiro ruim causado pela umidade. Em dias nublados, é aconselhado o uso de um secador.
Com relação ao tempo máximo para permanecer com as tranças, a trancista indica no máximo 45 dias. O uso por muito tempo além do recomendado pode causar acúmulo de sujeira, danificação e desidratação dos fios, desconforto e oleosidade em excesso no couro cabeludo.
“O cabelo crespo consegue ficar mais tempo, chegar a dois meses com cuidados redobrados. Mas outros tipos de cabelo a gente recomenda no máximo um mês e meio”, diz.
Para cuidar do couro cabeludo e dos fios naturais durante o período com tranças, é possível usar tônicos fortificantes na raiz e, em caso de um cabelo muito seco, óleos também são bem-vindos.
“Cabelos crespos não costumam ter a raiz oleosa, aí tudo bem aplicar o óleo duas vezes na semana. Para cacheados, ondulados e lisos, que são mais oleosos, deve-se passar uma vez só.”
Seu ateliê recebe de 12 a 15 clientes por dia. Uma delas é Raquel, que costuma ficar 20 dias com o cabelo trançado. Além da touca de cetim, que evita o atrito das tranças e reduz o frizz, a digital influencer também tem cuidados específicos para evitar resíduos no couro cabeludo.
“Faço uma misturinha com água e shampoo e borrifo diretamente ali no couro cabeludo e vou molhando aos poucos. Também uso um pincel de pintar cabelo para lavar nas repartições”, explica.
Os tipos de shampoo que ela usa também mudam quando está com o cabelo trançado. “Eu uso um anti-caspa ou outro que promete uma limpeza um pouco mais pesada, porque eu sinto que a trança deixa o couro cabeludo muito oleoso por causa das pomadas modeladoras.”
Para Raquel, as tranças não causam nenhum tipo de dano aos seus fios naturais. No entanto, ela sente desconforto momentâneo logo após trançar.
Luiza Vasconcelos destaca que não é normal que as tranças causem muita dor. “Pode incomodar, principalmente nos primeiros dias, mas não pode ser insuportável. Se a pessoa sentir muita dor, a trancista deve procurar uma forma de melhorar, deixando a trança mais folgada, por exemplo”.
Ao contrário de Raquel, a touca de cetim não é uma opção para o chef de cozinha Roberto Fraga, 44. Ele usou tranças por muitos anos e agora é adepto aos dreads (ou dreadlocks), estilo em que os fios de cabelo são enrolados, torcidos ou entrelaçados de forma a formar cordões ou “blocos” de cabelo mais grossos e compactos.
“Eu costumo suar enquanto durmo e o meu cabelo é bem oleoso, então a touca não funciona. O que eu uso é uma fronha de cetim, que também evita o atrito e mantem o cabelo por mais tempo”, conta. Segundo Fraga, os cuidados com os dreads são parecidos com os da trança. Ele também lava uma vez por semana e costuma usar óleos para hidratar a extensão do cabelo.
Existem vários tipos de tranças afros, como nagô, knotless, box, gypsy e goddess braids. Todas precisam seguir com a rotina de cuidados. Segundo a trancista Jessica Venandio, proprietária do Ateliê Espelho Espelho Meu, também na capital paulista, as tranças com cachos precisam de uma atenção maior.
“Trabalhamos com cabelos orgânicos que precisam de mais atenção, porque eles criam um ninho, ou seja, ficam embolados nas regiões que têm atrito, onde ele encosta mais”, diz.
Além disso, a cabeleireira Gilvania Fideli, da Lord Perfumaria, destaca que o cabelo natural precisa de uma hidratação potente antes de depois da aplicação das tranças, porque durante o período trançado não é possível aplicar nenhum tipo de condicionador ou hidratação nos fios.
As tranças também podem ser utilizadas por pessoas que têm caspas, mas é preciso ter um cuidado maior na lavagem. Quando o problema existe em excesso, a exposição do couro cabeludo e o uso de pomadas modeladoras podem agravar o problema, não sendo, portanto, recomendado o uso.
Muitas pessoas também acreditam que as tranças podem causar queda de cabelo, mas isso não é verdade. Vanessa Abreu, terapeuta capilar e CEO da Capi Hair Plus, explica que é normal cair uma média de 100 a 150 fios por dia, mas que esses cabelos ficam presos nas tranças.
“Quando vai tirar a trança um mês depois, os fios que ficaram presos na trança caem todos de uma vez, então é um susto. Mas isso não quer dizer que a trança causou essa queda”, destaca.
Informação
Folha de São Paulo