‘Vale este’: troca de emails expõe estratégia de fraude nas Americanas
Como não se sabia exatamente quanto as Americanas deviam, parecia que sua situação era muito melhor.
No material acessado pela reportagem — mensagens, relatórios, comunicados, contratos de convênio com instituições financeiras e materiais de reuniões internas das Americanas –, um tipo específico de empréstimo é descrito: o risco sacado.
Nessa modalidade de crédito, o banco compra débitos que a varejista tem com seus fornecedores — por exemplo, faturas referentes à compra de produtos. O banco paga adiantado aos fornecedores, e a varejista, então, passa a dever ao banco.
Essa operação foi muito usada pelas Americanas nos últimos anos, mas não era registrada devidamente nos balanços, o que fez com que os prejuízos reais acumulados pela varejista ficassem ocultos.
Alguns documentos mostram que os bancos chegaram a enviar à consultoria, por engano, demonstrações contábeis que incluíam os empréstimos escondidos.
Ao perceber o deslize, as instituições financeiras mandavam versões corrigidas das planilhas, em que o risco sacado desaparecia.
Esta é a primeira vez em que os emails com o “disfarce” dos créditos são divulgados.
O material obtido com exclusividade pelo UOL, parte da apuração conduzida pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários), também indica que a varejista tratava abertamente com os bancos das operações de risco sacado e fazia sugestões de como a instituição poderia abordar o assunto, caso a auditoria questionasse as operações.
Procurada, as Americanas disseram que não irão se pronunciar.
A CVM, procurada pelo UOL, disse que não comenta casos específicos.
Consultado, o Itaú disse que “sempre prestou todas as informações nas respostas à auditoria”.
O Santander disse que “repudia veementemente qualquer insinuação contrária à lisura de sua relação com a Americanas” e que sempre informou integralmente os saldos das operações da Americanas no Sistema Central de Risco do Banco Central.
Matéria: UOL Economia