Economia

Venezuela: 50 anos de desastre econômico

Quem lê as notícias recentes não deve imaginar que, nos anos 1960, a Venezuela era um grande exemplo de sucesso econômico. Puxado por um grande crescimento nas décadas anteriores, a renda por habitante do país era bem superior à da Noruega e chegou a cerca de 80% da renda per capita dos Estados Unidos.

Hoje, a Venezuela é um exemplo cartunesco de país latino-americano que exporta petróleo em vez de bananas, tem a economia em frangalhos e um ridículo tirano com uma estúpida retórica. A renda por habitante é cerca de 30% da renda per capita dos Estados Unidos, mais ou menos como era há cem anos, quando o petróleo foi descoberto na Venezuela.

A experiência venezuelana é diferente da dos outros países latino-americanos. Tanto o enorme crescimento entre os anos 1920 e 1960 quanto o colapso econômico desde os anos 1970 saltam aos olhos na comparação com outras nações emergentes.

O que causou o milagre econômico inicial e o desastre que se seguiu? Esse é o tipo de pergunta que não permite respostas definitivas por causa das dificuldades de estabelecer causalidade na macroeconomia. Ainda assim, temos pistas que nos ajudam a entender o que se passou.

Nas últimas décadas, o petróleo tem sido responsável por cerca de 90% das exportações venezuelanas e cerca de 60% da receita do governo, em média. Assim, é natural procurar explicações na indústria do petróleo.

Seguindo por esse caminho, alguns pesquisadores culpam o processo de nacionalização da indústria petrolífera, concluído em 1976. O argumento é que a produtividade do trabalho caiu e vastas quantidades de recursos passaram a ser alocadas por políticos, com resultados ruins para a economia.

Entretanto, não foi só o setor de petróleo que se expandiu e contraiu nesse período. O crescimento da renda per capita entre 1950 e 1970 e a queda posterior são explicados principalmente pelo que aconteceu nos outros setores, não no petróleo. Se as receitas do petróleo foram importantes, foram pelo efeito indireto na economia.

Quais seriam esses efeitos indiretos?

Minha leitura do que sabemos até o momento é que questões de economia política são fundamentais.

Recursos naturais trazem dinheiro, que pode ser investido e fomentar crescimento, mas mudam os incentivos para os governantes.

Se o crescimento econômico de um país é fomentado pelo investimento privado nos mais variados setores, o país precisa de instituições que garantam que contratos serão cumpridos, a propriedade será respeitada, as regras serão previsíveis. Na ausência dessas condições, ninguém vai querer investir pelo receio de não poder ter os frutos do investimento.

Por outro lado, se grande parte da receita do governo e das exportações é dada pela extração de um recurso natural e essa indústria é controlada pelo governo, investimentos privados são menos importantes. O governo consegue arrecadar grandes quantidades de recursos sem instituições que garantam justiça e cumprimento de contratos.

Hoje, com a ausência dessas instituições, quase ninguém quer investir na Venezuela.

Sem recursos naturais, o governo não teria fontes de receita significativas.

Contudo, contanto que existam compradores para o seu petróleo, continua entrando dinheiro na conta do governo.

Assim, Maduro pode continuar exercendo seus podres poderes. O país vai muito mal, milhões de venezuelanos emigraram, mas ele não parece estar preocupado.

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Folha de São Paulo

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