Política

Farsa de Maduro leva regime ainda mais fundo na Venezuela

Nicolás Maduro já era um ditador antes de anunciar sua candidatura a um terceiro mandato na Venezuela. Ao longo das décadas, o chavismo dominou instituições de controle, eliminou limites ao poder presidencial e exerceu um mando autoritário em aliança com os militares. Com a trama armada nesta eleição, o regime vai ainda mais fundo.

O presidente venezuelano completou a cartela de critérios que definem a escolha de um governante como uma farsa. Nos preparativos, órgãos controlados pelo chavismo restringiram a competição a partir do bloqueio de candidatos de oposição competitivos e cercearam a participação de eleitores, com regras duras para o voto no exterior.

Na campanha, o regime abusou da máquina estatal, tirando da disputa qualquer resquício de paridade de armas. Fechadas as urnas, o chavismo exerceu um monopólio sobre a proclamação do resultado eleitoral. Reivindicou um novo mandato a partir de uma pretensa legitimidade baseada só na palavra oficial.

Um processo de desgaste levou Maduro a ampliar o uso da cartilha autocrática para manter o poder, numa experiência escancarada. A expulsão de diplomatas que criticaram o segredo dos boletins de urna e a repressão policial-militar a protestos são os sinais mais recentes desse fechamento adicional do regime.

Quando essa caixa de ferramentas é aberta, dificilmente há espaço e vontade para uma volta a qualquer tipo de normalidade. Mesmo que Maduro apresente atas de votação que comprovem sua vitória, após vários dias, ele continuará sob contestação. A tendência é que o governo confie ainda mais na opacidade e na força para se sustentar.

Nenhuma ditadura sobrevive sem fazer sujeira. O chavismo se torna mais dependente desses artifícios na medida em que caem não apenas o apoio interno, mas também o amparo externo Trata-se de um caminho que torna tão alto o custo do alinhamento a Maduro que obriga até um entusiasta como Lula a traçar uma linha no chão.

Folha de São Paulo

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