Economia

José Paulo Kupfer: Inflação estável de agosto justificaria manter juros? Não é bem assim

O uso da política monetária para derrubar a atividade econômica e, na sequência, aliviar a alta de preços, no caso atual, é um tiro de canhão que, para atacar itens específicos, corre o risco de detonar todo o ambiente em volta.

É provável, contudo, que uma alta da Selic — mais para 0,25 ponto percentual do que para 0,5 ponto —, seja determinada pelo Copom, até para também elevar um suposto grau de confiança na condução de uma política de juros mais comprometida com a convergência da inflação para o centro da meta.

Em agosto, a inflação ficou no zero a zero principalmente pelas quedas mais acentuadas em energia elétrica e passagens aéreas. Tarifas de energia recuaram 2,8%, com a adoção da bandeira verde. Os voláteis preços de passagens aéreas, depois do pico das férias de meio de ano, caíram quase 5%. O preço dos alimentos também registrou queda de 0,44%, mas a deflação no segmento está menos intensa a cada mês.

Dólar e estiagem

Depois da calmaria de agosto na inflação, virá não uma tempestade, mas uma chuvinha insistente, nos meses futuros. Para setembro, por exemplo, as projeções apontam alta mensal de preços entre 0,5% e 0,6%. Com acumulados em 12 meses, a cada mês até dezembro, sempre na fronteira de 4,5%, teto do intervalo de tolerância, nível em que fecharia 2024.

O repique da inflação em setembro será puxado pela retomada nas tarifas de energia, agora sob a pressão da bandeira vermelha nível 1. Também aumentos em cigarros e em alimentos, refletindo os primeiros efeitos da estiagem que atinge boa parte das regiões produtoras, contribuirão para um IPCA mais pressionado neste mês.

Para o restante do ano, nas projeções do economista Fábio Romão, experiente responsável pelo acompanhamento de preços na LCA Consultores, os preços dos alimentos passarão a pressionar a inflação, assim como os de bens industriais, estes refletindo as altas ocorridas na cotação do dólar, de R$ 5 para R$ 5,5 ao longo do ano.

Matéria: UOL Economia

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