Economia

Educação antirracista

Costumamos utilizar o termo “racista” para designar pessoas que discriminam outras com base na cor da pele. Nesse mesmo sentido, o “racismo” seria uma demonstração interpessoal de preconceito contra negros, indígenas e pessoas de outros grupos étnico-raciais.

A questão é que o racismo não se atém aos indivíduos e suas ações. O racismo é um sistema. Mais precisamente, um sistema de opressão que se baseia na supremacia das pessoas brancas e na inferioridade das demais. O racismo foi criado e mantido por meio de políticas, práticas e procedimentos que produzem desigualdades entre grupos raciais.

A partir dessa definição de racismo, podemos então perguntar: o que significa ser antirracista? Isso é o mesmo que não ser racista?

A expressão “não racista” é mobilizada para se referir a uma resposta passiva ao racismo. Em última instância, ser “não racista” é o mesmo que ignorar 300 anos de história que esclarecem as causas das profundas desigualdades que observamos na sociedade brasileira. Essas desigualdades, na educação, nos salários, no acesso à justiça criminal, à moradia, à saúde e em outras dimensões, são resultado de políticas, práticas e procedimentos institucionais intencionais e racistas. Elas existem propositalmente.

Ao escolhermos a inação ante a discriminação, permitimos que o racismo prospere. Porque a inação gera cumplicidade, e tal qual as ações racistas, ela cria e mantém desigualdades. Ser “não racista” não requer resistência ativa e o desmonte do sistema do racismo. Ser “antirracista” sim.

O antirracismo também é um sistema, mas um sistema no qual criamos políticas, práticas e procedimentos dedicados a promover a equidade racial. O antirracismo gera ideias antirracistas para justificar a equidade racial que ele cria, valorizando a humanidade e a individualidade inatas de negros, indígenas e pessoas de outros grupos étnico-raciais.

O antirracismo nos obriga a analisar o papel que as instituições desempenham nas desigualdades raciais que observamos, em vez de atribuir a culpa a grupos inteiros e suas supostas “diferenças comportamentais”. Quando, como indivíduos, contribuímos para o racismo e para as desigualdades raciais, somos racistas. Se nos empenhamos em acabar com o racismo e promover a equidade racial, somos antirracistas.

Com o objetivo de ampliar o debate sobre educação antirracista no Brasil, o Núcleo de Estudos Raciais do Insper promove nessa sexta-feira, dia 20 de setembro, o evento “Educação antirracista: o papel do Estado e do terceiro setor para promover a equidade”. O evento reunirá pesquisadores, ativistas, educadores e representantes do Estado e do terceiro setor para discutir transformações no cenário educacional visando a promoção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Responsável pela consolidação do Índice Folha de Equilíbrio Racial (Ifer) e o Índice ESG de Equidade Racial (IEER), o Núcleo de Estudos Raciais do Insper é formado por uma rede de pesquisadores que tem como missão contribuir para o debate sobre a desigualdade racial no Brasil por uma perspectiva econômica, que se debruça sobre dados e gera conhecimento a partir de estudos analíticos e empíricos.

Data: 20 de setembro de 2024

Horário: 14h às 21h

Local: Auditório Steffi e Max Perlman – Térreo, do Insper, localizado no endereço Rua Uberabinha, s/n – Vila Olímpia, em São Paulo (SP).

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida pelo Núcleo foi “A Vida é Desafio” de Racionais Mc’s.

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Folha de São Paulo

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