Política

É preciso saber dizer não

Nesta semana aconteceu no Insper o 5° Encontro da Sociedade de Economia da Família e do Gênero organizado pelo GeFam. Esse encontro tem sido um importante espaço para a troca de ideias e discussão de trabalhos entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros. As mulheres foram 70% dos palestrantes no encontro. Além disso, a participação de professores e pesquisadores estrangeiros, especialmente latino-americanos, tem crescido ano a ano, atingindo 34% dos palestrantes.

Uma novidade foi a sessão de mentoria com alunos de várias regiões do Brasil, 35% provenientes do Norte e do Nordeste. O evento contou ainda com a participação de duas renomadas pesquisadoras internacionais da área, Marianne Bertrand e Lise Vesterlund.

A palestra de Lise Vesterlund, baseada em seu livro “The No Club”, ainda sem tradução para o português (em coautoria com Linda Babcock, Brenda Peyser e Laurie Weingart), abordou como as mulheres acabam aceitando tarefas que as sobrecarregam, mas não contam para a progressão da carreira, o que as autoras chamam de non-promotable tasks (NPT). Isso acontece tanto no mundo corporativo como na academia.

Tarefas como organização das festas da firma, resolução de conflitos entre colegas de trabalho ou participação em comitês de contratação são alguns exemplos. Elas são importantes, mas são menos visíveis dentro das empresas. Entretanto, atividades como o desenvolvimento de um novo produto ou o fechamento de um grande negócio são visíveis porque estão diretamente ligadas aos objetivos das empresas. Lise apresenta estudos que mostram que as mulheres acabam aceitando mais NPT do que homens. A questão é que precisamos aprender a dizer não.

Outro ponto levantado por Lise foi a diferença na alocação de tarefas às mulheres no início de suas carreiras. As mulheres tendem a ser atribuídas a tarefas que as tornam invisíveis aos olhos de quem vai decidir pela progressão de suas carreiras. Essa diferença na alocação de tarefas promove um diferencial de salário que começa pequeno, em torno de 4% no primeiro ano, porém vai aumentando ao longo do tempo, atingindo dois dígitos.

Chefes e supervisores precisam valorizar igualmente as habilidades de seus funcionários para evitar essa diferença na alocação de tarefas. Uma possível solução seria sortear a alocação de tarefas entre novos funcionários para evitar qualquer tipo de viés implícito. Esse assunto foi abordado por mim na coluna “Preconceitos são mais fortes do que pensamos: o viés inconsciente“.

No último dia do encontro tivemos a palestra da economista Regina Madalozzo. Ela foi uma das primeiras economistas a estudar o tema no país e recentemente lançou o livro “Iguais e Diferentes: Uma Jornada pela Economia Feminista”, trazendo um recorte sobre as diferenças de gênero no Brasil. Ela trabalhou por mais de 20 anos como professora e pesquisadora de economia. Porém, alguns anos atrás, optou por mudar de profissão e está concluindo o curso de psicologia.

Durante a sessão, a discussão caminhou para as experiências que as mulheres enfrentam ao longo de suas carreiras. As dificuldades, os vieses e as barreiras impostas que sofrem. Foi um momento de reflexão. O encontro foi tão produtivo que já estamos ansiosos pelo evento do ano que vem. Obrigada a todos que participaram do encontro do GeFam.

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Folha de São Paulo

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