Saúde

Dietas vegetarianas não causam transtornos alimentares, explicam nutricionistas

A restrição alimentar, seja por meio da contagem de calorias ou redução de refeições pode ser gatilho para pessoas predispostas a desenvolver um transtorno alimentar. Assim, optar por dietas que restringem o consumo de alimentos de origem animal, como o ovolactovegetarianismo e o veganismo, pode ser uma forma de camuflar um transtorno alimentar?

A nutricionista Alessandra Luglio, diretora do departamento de saúde e nutrição da Sociedade Brasileira Vegetariana, diz que esses estilos de vida são escolhas políticas. Pessoas que já têm um comportamento obsessivo relacionado à alimentação podem procurar as dietas baseadas em vegetais como forma de diminuir o consumo de gordura e com o objetivo de perder peso, o que indica a preexistência de uma relação nociva com a comida. Já veganos e ovolactovegetarianos não necessariamente desenvolvem um transtorno ocasionado pelas restrições. Em sua experiência, não vê diferença expressiva entre pessoas veganas com transtornos alimentares em relação a pessoas onívoras (que consomem produtos de origem animal).

Às vezes, enveredar por esse caminho pode flertar com a ortorexia, comportamento alimentar disfuncional caracterizado por seletividade extremada com relação a alimentos considerados saudáveis na busca de um “comer limpo”, explica Luglio.

Para Victor Hugo Machado, nutricionista com foco em comportamento alimentar e obesidade, esse estilo de vida deve ser pautado em seu bem-estar e propósitos, não em perder peso –o que não está necessariamente relacionado, diz. Ao mesmo tempo, não significa que voltar a comer carne vá curar uma pessoa com transtorno alimentar.

“Há 30 anos ninguém ‘batia macro, micro, comia carboidrato ou proteína’. As pessoas comiam batata, arroz, feijão. Hoje há mais acesso à informação e a profissionais de saúde, e ainda assim não só a obesidade como a insatisfação corporal aumentaram”, diz Victor, que não acredita em dieta.

O nutricionista explica que a adesão às dietas baseadas em vegetais de fato pode diminuir o índice de gordura do corpo se feitas com propósito, se houver uma alimentação vegana balanceada. Em alguns casos, no entanto, também podem levar ao consumo de produtos ultraprocessados que atendem essas dietas, mantendo uma alta ingestão de gordura.

Para ele, mitos culturais sobre nutrição e exercícios físicos estimulam a desinformação, como a ideia de ser necessário suplementar proteína ou que alguns exercícios físicos não fazem perder peso. “Daí uma pessoa com obesidade que gosta de yoga abre mão de se exercitar porque ouviu dizer que aquela atividade não a fará perder peso, enquanto uma pessoa com transtorno se exercita à exaustão. Usamos os exercícios e a comida como forma punitiva, e não fomos ensinados que cuidar do nosso corpo é uma questão de autocuidado“, finaliza.

Alessandra aponta que o papel do nutricionista é ajudar a pessoa com transtorno alimentar a perder o medo de comer, mostrando sempre a função e os benefícios de cada alimento. Victor corrobora, e explica que mesmo alimentos ultraprocessados podem ser importantes para quem faz uma transição alimentar e opta por carnes “do futuro”, salgadinhos como Baconzitos (que é vegano) ou fandangos. “Saúde é contexto. Esses alimentos têm apelo afetivo e podem ser um pilar para a saúde mental”, finaliza.


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Informação

Folha de São Paulo

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