Saúde

Casal católico com 12 filhos mostra rotina da família para mais de 1 milhão de seguidores

Contrariando as baixas taxas de natalidade no Brasil e no mundo, alguns grupos de casais católicos estão tendo mais filhos. Eles dizem não utilizar anticoncepcionais, como determina a Igreja Católica, formando as assim chamadas famílias numerosas.

Uma família que tem feito sucesso nas redes sociais é a de Mariana e Carlos Arasaki. Eles já batem a marca de 1,3 milhão de seguidores no Instagram, somando as contas da mãe e do pai, e mais de 500 mil no TikTok.

O casal teve a primeira filha aos 26 anos. Hoje, aos 39, são pais de 12 crianças: oito meninas e quatro meninos, sendo as duas últimas gestações de gêmeos. Por mês, são consumidos 96 litros de leite e 40 kg de carne. Oito das crianças estão em idade escolar e frequentam escola particular. Após o café da manhã em família, os pais as levam ao colégio, cada um dirigindo um carro de sete lugares.

Mariana e Carlos se conheceram no grupo de jovens na paróquia que ainda frequentam e, em 2011, se casaram. O casal afirma que não evita a gravidez para cumprir plenamente a promessa que fizeram no dia casamento: de receber e educar na fé todos os filhos que Deus lhes enviar.

“Somos totalmente abertos à vida [ideia de que a possibilidade de uma gravidez não deve ser barrada por meios artificiais]. Nunca usamos métodos contraceptivos. A abertura à vida cabe a Deus e ao casal. Não quer dizer que todo mundo terá 12 filhos”, diz Mariana, que também vem de uma família numerosa, com seis irmãos e 19 sobrinhos. Já Carlos é filho único.

Dom Bruno Elizeu Versari, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e Família da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), explica que, apesar de muitas vezes não ser possível atrelar os casais a grupos específicos, na última década as famílias numerosas têm crescido em dois movimentos dentro da Igreja Católica.

Nas Comunidades de Vida e de Aliança, associações reconhecidas pela Igreja nas quais leigos engajam-se em uma vida comunitária e para anunciar o Evangelho, e no Neocatecumenato, movimento que resgata o início do cristianismo, como viviam os primeiros cristãos.

Mariana participa do Apostolado da Oração, que busca incorporar as orações tradicionais católicas no cotidiano de seus membros, e Carlos do Opus Dei, organização que tem como eixo a noção de santificação da família, do trabalho e da oração —ambos movimentos conservadores por seguirem fielmente a doutrina, diz o coordenador do núcleo de estudos de religião, economia e política da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), André Ricardo de Souza.

Nas redes sociais

Mariana e Carlos Arasaki dizem que apenas no final de 2021, já na penúltima gestação, é que decidiram expor o dia a dia da família nas redes sociais, após o incentivo da irmã de Mariana, que percebia a curiosidade das pessoas em torno do cotidiano da família e topou administrar a conta.

Eles contam que uma das perguntas mais frequentes dos seguidores é como se mantêm financeiramente. “Temos que fazer escolhas, mas a cada filho trabalhamos mais e rezamos pela providência divina. Acredito muito que cada filho vem com um pãozinho debaixo do braço”, diz Mariana.

Carlos é sócio em uma financeira que trabalha com produtos bancários, como consórcios e linhas de crédito. Até o quinto filho, Mariana trabalhava na área administrativa de uma empresa de engenharia, algo que deixou de fazer para se dedicar às crianças.

Hoje, como influenciadora, consegue contribuir com até 50% no orçamento familiar a depender do mês, por meio de contratos com marcas, parcerias, permutas e cursos sobre maternidade.

A família conta com cinco funcionárias: a que cuida da casa, duas babás durante a semana, além de outras duas nos finais de semana.

Para a educadora Cíntia Senna, da Dsop educação financeira, planejamento e a adoção de estratégias são necessários para manter o orçamento nos trilhos, como compras no atacado, pedido de descontos ou bolsas nas escolas e reaproveitamento de itens como roupas, brinquedos e material escolar. Mas a depender da renda familiar, diz Senna, essas adaptações não serão suficientes.

Nem todas as famílias têm rede de apoio

Membros da Comunidade Católica Espaço Vida, Camila Moitinho, 40, e o marido, Gideon Moitinho, 41, têm quatro filhos. Ela trabalha meio período como assistente social e ele leciona música em três escolas com horários flexíveis.

Com essa agenda, eles afirmam que conseguem dividir o cuidado com as crianças e as tarefas da casa. O casal mora longe dos familiares e, raramente, quando não conseguem se revezar, solicitam a ajuda de parentes ou amigos da igreja para estarem com as crianças por um tempo.

“Considero a maternidade uma missão. Lógico que é muito trabalho, mas tudo é dividido. À medida que as crianças crescem passam a contribuir mantendo as próprias coisas organizadas. Precisamos de uma rotina para dar certo”, diz Camila.

Para Lorena Hakak, professora da FGV RI, presidente da Sociedade de Economia da Família e do Gênero e colunista da Folha, a forma de divisão dos cuidados depende do combinado de cada família e normalmente varia entre a contratação de alguém para cuidar das crianças, o apoio de familiares ou a escola integral.

“Mas o que observamos é que as mulheres ainda são as principais cuidadoras, assumindo uma carga maior de trabalho. Muitas acabam abrindo mão da carreira e até podem retomá-la anos depois, porém com menos experiência e ganhando menos.”

Entre os cenários possíveis para que mulheres não precisem deixar suas carreiras se assim o desejarem, diz Hakak, estão horários de trabalho mais flexíveis, a oferta de mais creches e escolas em tempo integral, com horário estendido e de boa qualidade, além da aprovação de uma licença paternidade maior, o que geraria mudança na mentalidade da sociedade, de que o pai também cuida.


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Informação

Folha de São Paulo

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