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Apps de relacionamento ofertam amizades a brasileiro, que prefere rede social para achar amor

Aplicativos de relacionamento buscam oferecer mais do que amor e sexo para usuários brasileiros. Plataformas investem em conexões de amizade, trabalho e hobbies para competir com as redes sociais, preferidas para encontrar parceiros românticos.

O Tinder registrou aumento de 10,5% na busca por amizade entre usuários do Brasil entre janeiro e setembro de 2024. Além de fazer amigos, quem usa a plataforma pode sinalizar que deseja “um relacionamento sério”, “algo casual” ou ainda não sabe.

O Brasil será um dos primeiros a receber, até o final do ano, função dedicada exclusivamente a conhecer novos amigos no Happn, outro aplicativo de relacionamento. A mesma plataforma lançou na semana passada recurso que conecta usuários com base em locais frequentados.

Além de representar quase 20% da base do Happn, com 29 milhões de usuários, o país também é um dos que mais passa tempo online, dá curtidas e troca mensagens, segundo a empresa. Mas métricas atraentes de engajamento não necessariamente se convertem em muitos casais formados.

Pesquisa do próprio Happn mostra que 81% dos entrevistados afirmam que dedicam mais tempo à avaliação de perfis do que a conversas significativas, enquanto 94% têm dificuldade em iniciar diálogos relevantes. Para 64%, mesmo interações promissoras nem sempre resultam em encontros presenciais.

O Bumble, aplicativo com presença no Brasil desde 2016, já oferece opção para amizades e networking profissional, além de relacionamentos amorosos. Em 2023, lançou o Bumble For Friends, aplicativo separado e voltado exclusivamente para amizades.

A implementação responde à alta demanda por “conexões platônicas” constatadas entre clientes, segundo o aplicativo.

Levantamento realizado pela Opinion Box de fevereiro de 2024 mostra que, apesar de a internet ser colocada como um facilitador de conexões, as redes sociais são mais citadas que os aplicativos especializados entre plataformas usadas para encontrar parceiros.

Enquanto 34% dos entrevistados citam as redes sociais como forma de achar pares, o Tinder, aplicativo mais popular do segmento, é mencionado por 30%. O Badoo aparece em terceiro lugar, com 19%, seguido por sites de bate-papo, com 13%. A gratuidade do aplicativo é o principal critério de escolha, citado por 39% dos participantes.

A “dating app fatigue” (inglês para fadiga de aplicativos de namoro) não é exclusividade do Brasil. Grupos controladores dos aplicativos apostam em novos recursos de maneira global para reverter desaceleração no uso pós-pandemia.

A curiosidade e necessidade de conhecer melhor o outro podem intensificar a busca por plataformas que ofereçam informações mais abrangentes sobre potenciais parceiros, como as redes sociais, de acordo com Bianca Dramali, doutora em estudos do consumo e professora na ESPM.

“Como qualquer produto, os aplicativos de relacionamento precisam se adequar às mudanças no comportamento do consumidor. Há cerca de dois anos, já observamos uma migração das conversas sobre relacionamentos para outras plataformas, especialmente entre a Geração Z e millenials mais jovens”, diz.

A busca por sobrevivência dos serviços é positiva, na visão da especialista. “Não faz sentido manter um produto inalterado quando se identifica uma mudança no público”, diz.

A biomédica Ludmila Oliveira Moraes, 35, relata descompasso com pessoas que só buscam sexo casual ou encontros românticos nos aplicativos. “Não é a minha praia, então filtro e sigo o baile”, diz.

Ela conta que, por já ter morados em várias cidades, os aplicativos de relacionamento serviram como uma plataforma de socialização mais abrangente. Apesar de já ter vivido namoros que começaram na plataforma, a biomédica afirma que amizades costumam ser mais sólidas.

“Nunca procurei relacionamento, sempre que usei foi para conhecer pessoas de uma forma geral. Você busca socializar e, daí, pode surgir uma amizade, uma paquera, um namoro, mas não é o objetivo inicial”, afirma.

Pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com os modelos e rituais tradicionais de relacionamento, segundo a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins. Para a especialista, redes sociais aceleram o acesso a diferentes formas de pensar e permitem aos usuários conhecer uma variedade maior de pessoas e ampliar visões de mundo.

“Havia uma pressão para que todos se enquadrassem em modelos prestabelecidos. Hoje, as pessoas estão descobrindo e explorando novas formas de se relacionar”, diz.

A satisfação com os resultados nem sempre é positiva entre quem procura amizade nas plataformas. A estudante de jornalismo Alessandra Ueno, 20, entende que, mesmo em um contexto romântico, a primeira relação que deve ser formada é a amizade —algo nem sempre correspondido pelo outro lado.

“Eu já tive ‘tudo começa pela amizade’ escrito na minha bio. Pode evoluir para outras coisas, mas tem que ter essa base”, diz.

“Uma vez conversei muito com uma pessoa mas, quando nos encontramos, a química não bateu, e paramos de conversar. A amizade não valia nada, então?”.

A estudante não tem perfil ativo em nenhuma plataforma do tipo desde que saiu do último relacionamento, iniciado por aplicativo de namoro.

“Até voltei, mas logo fiquei cansada e decidi dar um tempo nesses aplicativos. Vou deixar a vida seguir”.

Folha de São Paulo

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