Política

Bolsonarismo racha em MS e divide maioria conservadora

Com 63% dos votos na eleição de 2022 em Campo Grande (MS), Jair Bolsonaro (PL) era considerado o principal cabo eleitoral dos candidatos à prefeitura da capital de Mato Grosso do Sul.

A senadora e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP) tentou aproveitar sua relação com o ex-presidente para levá-lo à campanha de reeleição da atual prefeita, Adriane Lopes (PP).

Foi uma surpresa quando Bolsonaro apareceu segurando um martelo do super-herói Thor ao lado do deputado federal Beto Pereira, do PSDB, pedindo votos para o tucano. “Vamos fazer de Mato Grosso do Sul, pela política, um dos melhores estados do Brasil, tá ok?”, disse o ex-presidente em um dos vídeos de campanha.

“Foi frustrante porque a gente tinha um acordo bem engatilhado. Como o presidente [do PP] Ciro [Nogueira] disse, foi um erro do presidente Bolsonaro ter apoiado essa candidatura na capital”, disse Tereza Cristina à Folha.

Sofrendo em outros estados e com baixa representação no Congresso Nacional, o PSDB mantém seu último bastião em Mato Grosso do Sul. Governa o estado há dez anos e possui 51 das 79 prefeituras sul-mato-grossenses.

A estratégia do partido este ano foi centrar forças para eleger o prefeito de Campo Grande, mesmo com possível queda no número de prefeituras no estado. Para isso, o ex-governador Reinaldo Azambuja, tucano histórico, deve migrar para o PL e assumir o diretório estadual da legenda. A transição faz parte de um acordo com Valdemar Costa Neto, em troca do apoio de Bolsonaro a Beto Pereira.

O espólio bolsonarista, no entanto, está dividido em três candidatos, diz o ex-deputado federal Fábio Trad (PSD), de família tradicional na política de Mato Grosso do Sul. “A população parece mais preocupada com questões locais, como infraestrutura urbana e saúde, do que em seguir Bolsonaro”.

O voto bolsonarista se dividiu entre Beto Pereira, a candidata do PP e Rose Modesto (União Brasil).

A dificuldade do PSDB de transferir os votos de Bolsonaro para os tucanos envolve a concentração de candidaturas com viés conservador —algumas mais conhecidas do que a de Beto em Campo Grande.

Rose Modesto lidera a corrida eleitoral com 31% das intenções de voto, segundo levantamento da Quaest divulgado em 17 de setembro. Ela é uma política de centro com boas relações com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), membros do governo Lula (PT) e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).

O principal risco à campanha dela, avalia Rose, é o uso da máquina pública por partidos políticos às vésperas da eleição de domingo (6).

“Nós precisamos falar para todo mundo que o voto é secreto. Não importa o que vão te oferecer na virada da madrugada —que, infelizmente, acaba acontecendo pelo Brasil afora. O que está em jogo agora é o que vai acontecer pelos próximos quatro anos”, disse Rose na quarta (2), durante ato de campanha no bairro de Guanandi, região periférica de Campo Grande.

Rose é evangélica e consegue reunir votos de conservadores e apoiadores de Lula. Já disputou três eleições majoritárias para prefeitura de Campo Grande e para o governo do estado, além de ter sido deputada federal de 2018 a 2022.

O cenário eleitoral na corrida à prefeitura de Campo Grande ficou mais incerto nas últimas semanas. Beto Pereira estava com 25% dos votos na última pesquisa da Quaest, mas sua campanha acredita que o tucano perdeu votos na última semana, após jornais locais passarem a noticiar um suposto envolvimento dele em esquemas de corrupção no Detran local.

Ele nega as acusações. “Mais uma denúncia picareta e fraudulenta feita por um foragido da Justiça contra mim”, disse o tucano.

Quem tenta ganhar os votos de Beto é a prefeita Adriane Lopes, cujo símbolo da campanha é uma bota típica de Mato Grosso do Sul. É uma referência ao pé no chão, de quem anda pela cidade.

“Nós conhecemos melhor [os problemas de Campo Grande] do que os outros candidatos. Eles que, nos últimos anos, passaram mais tempo em Brasília do que aqui e agora chegam com seus pacotes de promessas”, disse a prefeita.

Adriane assumiu em 2017 como vice-prefeita de Marquinhos Trad (PSD). Foi elevada ao principal posto da cidade em 2022, quando o prefeito renunciou ao cargo para disputar o governo de Mato Grosso do Sul. Tinha 16% das intenções de voto, segundo a Quaest de 17 de setembro.

Em quarto lugar nas pesquisas, a deputada federal Camila Jara (PT) rebate Adriane. “Ela ficou oito anos na prefeitura e não deu conta de construir uma casa popular nos governo do Bolsonaro. Agora, nós iniciamos contrato para a construção de 200 moradias populares no governo Lula. São os problemas de Campo Grande se resolvendo em Brasília”, disse.

Camila cola sua imagem na de Lula para testar a adesão à sua candidatura em Campo Grande —especialmente nas periferias, onde é menos conhecida e o presidente teve votação expressiva. Com baixas chances de sucesso, a eleição de domingo servirá mais para consolidar sua imagem na capital.

Disputam ainda a eleição à prefeitura de Campo Grande os candidatos Beto Figueró (Novo), Luso de Queiroz (PSOL) e Ubirajara Martins (DC).

A avaliação dos candidatos na reta final da eleição é que a estratégia de nacionalizar a campanha não funcionou. “O que realmente importa na eleição municipal é a obra parada, a fila no posto de saúde […]. As figuras nacionais não se envolveram muito [na campanha] e o efeito foi pouco [para os políticos]”, disse Tereza Cristina.

Folha de São Paulo

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