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Marçal cria o ‘efeito Zambelli’ para si mesmo e fica fora do segundo turno

Antes das eleições de domingo (6), o último fato político que ganhou a atenção dos paulistanos na reta final foi a divulgação por Pablo Marçal do laudo falso que buscava acusar Guilherme Boulos de ter sido internado por uso de cocaína.

Havia expectativa com relação ao tema, pois Marçal anunciou durante toda a campanha que apresentaria provas de que Boulos era usuário de drogas, como acusou desde o primeiro debate. Contudo, Boulos se antecipou no último encontro, realizado pela Globo, e apresentou um exame toxicológico com resultado negativo para cocaína.

A divulgação dessa fake news por Marçal pode ter criado um efeito importante no resultado do primeiro turno da eleição de São Paulo, mas possivelmente contrário ao que o ex-coach esperava. Parte do eleitorado mostrou que não quer votar em alguém que está trapaceando.

Essa estratégia da campanha de Marçal pode ter criado o “efeito Zambelli” e afastado o voto do eleitor indeciso. Nas véspera do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, a deputada bolsonarista Carla Zambelli sacou uma arma e disparou no bairro dos Jardins, em São Paulo. Bolsonaro e apoiadores creditaram parte da derrota nas urnas à atitude da congressista.

De acordo com o monitoramento de mais de 80 mil grupos de WhatsApp utilizando a ferramenta da Palver, podemos observar que Boulos (42% das menções) e Marçal (41% das menções) dominaram completamente a atenção da rede nas últimas horas.

O laudo falso foi divulgado no fim da sexta-feira (4), mas, no dia seguinte, as notícias desmentindo o fato tomaram as redes. A maior parte das menções ao relatório médico no WhatsApp apontavam os problemas e acusavam Marçal de campanha suja.

Até a manhã do último domingo, segundo dados da Palver, as menções às notícias que provam a falsidade do laudo correspondem a 17,35% de todas menções a Boulos. Aquelas que apresentam a acusação, apenas 4,9% das menções.

Em grupos de direita, a reação também foi dividida. Usuários afirmaram que Marçal “deu munição pra esquerda e perdeu voto” e que “se comprovada a mentira, ele será preso”. Isso criou um efeito contrário ao esperado pela campanha de Marçal, uma vez que os usuários se mostraram receosos em depositar seu voto no empresário.

Durante o dia da votação, mensagens buscando justificar o laudo e cortes fora de contexto apontando que se tratava de documento verdadeiro continuaram a ser enviados nos grupos públicos.

Nos dos apoiadores de Marçal, usuários colocaram energia para tentar disseminar a linha discursiva de que Boulos realmente foi internado e que, se houve algum equívoco no documento, foi do médico. Além das mensagens orgânicas, foi possível identificar impulsionamento do laudo falso.

Parte da direita mais alinhada a Marçal também reagiu negativamente ao vídeo de Silas Malafaia defendendo Boulos. Isso criou uma disputa em grupos desse campo político, uma vez que, de um lado, Nunes contava com apoio de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e outras figuras da direita, enquanto Marçal recebeu apoio de bolsonaristas relevantes como Nikolas Ferreira e Ricardo Salles, ambos do PL.

Em alguns grupos da direita, começaram a circular mensagens ao longo do dia insinuando fraudes como “o STF vai anular votos do Marçal”. Além disso, foram divulgados vídeos de pesquisas falsas de boca de urna nas quais Marçal se posicionava à frente dos demais candidatos.

Após a divulgação do resultado oficial, mensagens classificadas pela plataforma da Palver como sendo de comportamento robótico diziam “isso foi roubado na cara dura”. E continuavam: “não tem como um cara com influência e a inteligência do Marçal ficar de fora só se o povo estiver de fato totalmente inicializado.”

Essa narrativa de fraude nas urnas é um subterfúgio para parte dos apoiadores do empresário, que criaram uma realidade paralela na qual Marçal venceria as eleições no primeiro turno.


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Folha de São Paulo

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