Saúde

Casa de repouso é opção para idoso que precisa de cuidado, mas deve oferecer atividades de estímulo

Foi em janeiro deste ano que a costureira dona Yolanda, 94, deixou de fazer crochê. O motivo foi um AVC (acidente vascular cerebral) que fez com que ela precisasse migrar para uma casa de repouso.

Quase sem sequelas, ela diz que a decisão partiu dela junto aos filhos, com quem morava até então —eles deixaram aberta a possibilidade de Yolanda voltar a morar com eles, caso desejasse. A idosa testou a estadia no local e gostou.

Com sequelas do AVC, ela tinha em mente que precisava de um lugar em que pudesse se tratar com fisioterapia e fonoaudiólogo. “Então eu entendi que tudo isso feito em domicílio atrapalharia a vida dos meus filhos, que trabalham em casa”, relata.

Moradora do Spazio Residencial, uma instituição de longa permanência de alto padrão na Vila Olímpia, bairro nobre na zona oeste de São Paulo e cuja mensalidade custa a partir de R$ 13 mil, ela conta que se sente bem no local, que foi escolhido pela proximidade da casa de seus filhos.

O espaço tem 24 acomodações e funciona há pouco mais de um ano. Entre as atividades oferecidas estão as básicas, como fisioterapia e acompanhamento diário com equipe médica e de enfermagem. Já entre as opções mais diferentes estão as aulas de musicoterapia, expressão corporal e até terapia com cães.

“Aqui não tem nada ruim. É sossegado, é um lugar gostoso de ficar, a gente fica no meio das plantas e tudo isso para mim tem valor. Eu fico satisfeita”, afirma.

A gerontóloga e professora do curso de gerontologia da USP (Universidade de São Paulo) Thais Bento Lima da Silva explica que atividades de estímulo são importantes para ajudar na independência dos idosos e até na melhora de quadros neurodegenerativos —condições comuns em ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos), sendo Alzheimer a mais prevalente.

“Estudos indicam que quadros neurodegenerativos pioram quando o idoso é institucionalizado em um estágio moderado ou grave e tem poucos estímulos em sua rotina. No entanto, é observada uma maior sobrevida e melhora da qualidade de vida para aqueles que possuem acompanhamento multiprofissional especializado”, relata.

Tais espaços, segundo a gerontóloga, precisam ter recursos hospitalares, mas manter a decoração com jeito de lar para o bem-estar dos residentes.

Gilvani Maria da Silva, enfermeira responsável pelo Spazio, explica que os moradores costumam se interessar mais por atividades como ginástica e terapia manual, como a produção de artesanato.

Além disso, ela afirma, que dentro da rotina da casa, eles começam a fazer amizade uns com os outros.

O local também oferece a possibilidade de “day care”, mas longe de ser uma creche de idosos, pelo contrário. “Tentamos não infantilizar os casos porque eles têm uma personalidade tão forte que estão longe disso. Eles entendem que a residência deles é essa”, explica a Gilvani.

A cerca de 7 km dali, no bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, fica a Villa Maná, também uma ILPI, mas com o custo diferente. Por lá as mensalidades partem de R$ 3.000 e variam de acordo com o grau de dependência do idoso. Em todas as modalidades são ofertadas atividades como fisioterapia, consultas médicas e de nutricionistas semanais, além de recreação geriátrica.

Foi a busca por essas tarefas de cuidado que levou Roberto Bruno, 95, para uma casa de repouso. Viúvo e com apenas um filho, há quase três anos ele vive na Villa Maná.

“Eu morava sozinho quando, um dia, caí em casa e não conseguia me levantar. Meu filho acabou me ligando e, vendo que não atendia, entendeu que seria melhor eu ficar numa casa de repouso”, diz.

Apesar de a decisão não ter partido diretamente dele, Roberto afirma gostar do espaço, especialmente dos momentos em que consegue tomar sol e ficar jogando no celular.

Alguns moradores, no entanto, podem relutar na hora de decidirem se vão ou não para uma ILPI. “É comum um sentimento de inconformismo, tristeza e mágoas de filhos, cônjuges ou irmãos, por exemplo, por não aceitar a mudança de ambiente de moradia”, diz Thais Bento Lima da Silva.

Segundo a gerontóloga, a opção pela ILPI deve acontecer quando for constatado que a pessoa idosa precisa de cuidados diversos por uma longa duração, não podendo ficar em sua casa sozinha sem supervisão.

Já a fisioterapeuta respiratória e coordenadora da Villa Maná, Mayara Elis Trindade, explica que o momento ideal para optar pela ILPI é quando, para a família do idoso, o cuidado é sinônimo de estresse e desgaste. “É quando você percebe que, para ajudar, precisa de ajuda”, diz.

A primeira moradora do local é a própria avó de Mayara, que vive no espaço há 10 anos. Acamada, ela foi internada com um quadro leve de Alzheimer. Hoje, a casa tem duas unidades e cerca de 57 pacientes, a maioria com algum tipo de problema neurológico, e com idades entre 65 e 105. A maioria é mulher.

Para Nayara Dutra Lemos, assistente social e presidente do departamento de gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), famílias mais reduzidas, que não tenham quem cuide do idoso, e que moram em espaços menores são mais propensas a procurar casas de repouso.

Uma outra alternativa, segundo ela, é a contratação de um cuidador. “Mas ainda assim é necessário alguém que gerencie o cuidador”, explica Lemos.

Nas casas de repouso, de acordo com a presidente da SBGG, é fundamental que esses espaços tenham o número adequado de cuidadores e equipe para dar suporte para o idoso.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem uma resolução que define como devem funcionar as ILPIs em todo o país, assim como regulamenta quantos funcionários as casas precisam ter e quantos aposentos devem ser disponibilizados.

Por nota, a Secretaria de Assistência Social de São Paulo informou que, até o ano passado, o estado contabilizou uma média de 18.697 vagas ocupadas em ILPIs custeados pelo SUAS (Sistema Único de Assistência Social).

De acordo com a pasta, o serviço é prestado por organizações da sociedade civil e as vagas, geralmente, ficam disponíveis pelo CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) para pessoas com 60 anos ou mais e que, preferencialmente, não dispõem de condições para permanecer com a família e estejam em situação de vulnerabilidade. Além dos cuidados básicos, as casas ofertam atividades de convívio e culturais.

Já a Prefeitura de São Paulo afirmou contabilizar 720 vagas ocupadas em 19 unidades de ILPI da rede municipal. Segundo o município, as instituições oferecem até cinco refeições diárias, acompanhamento com cuidadores, enfermeiros, psicólogos, orientadores socioeducativos e assistente social, além de atividades como cinema, coral e bailes para pessoas com mais de 60 anos em situações de negligência, violência ou vulnerabilidade social.

Para ter acesso às vagas, é necessário recorrer ao CREAS do município.

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Informação

Folha de São Paulo

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