Saúde

Alimentação saudável deve levar em conta aspectos sociais e afetivos, dizem nutricionistas

“Comer bem” ou “comer saudável” não são sinônimos de uma dieta rígida e restritiva. Uma alimentação equilibrada tem menos a ver com a quantidade de macronutrientes das refeições do que com a relação social com a comida.

De acordo com a nutricionista Fernanda Pisciolaro, do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, “se a gente precisasse só da nutrição biológica a gente comia ração e estava tudo certo. Era muito mais simples lidar com comida; a gente já tem tecnologia para isso, os animais já comem assim e são saudáveis, né? Isso não funciona para o ser humano”, diz ao blog.

O argumento de Fernanda é que comer bem é algo variável de indivíduo para indivíduo e que envolve mais do que a função que o alimento exerce no corpo. “Para comer bem, uma pessoa precisa em primeiro lugar comer o suficiente”, diz. Segundo a nutricionista, isso significa ficar atento aos sinais de fome e saciedade e da necessidade energética de cada pessoa. Porque a comida é, também, energia.

Além disso, é preciso “respeitar os intervalos entre as refeições e, nesses momentos de comer, garantir que tenham alimentos de três fontes básicas: energéticos, construtores e reguladores”, explica.

Mas não é preciso se desdobrar para encontrar alimentos que supram essas necessidades. Para Fernanda, basta olhar para a culinária típica. “Se você buscar pratos culturalmente tradicionais, eles em geral fornecem esses três grupos, no mundo inteiro. Existe uma certa intuição nossa em buscar esse equilíbrio”.

Para Lara Natacci, nutricionista PhD. e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, a percepção é parecida. “É fundamental praticar uma alimentação consciente, dedicando atenção plena ao momento, utilizando os cinco sentidos e evitando distrações durante as refeições. Além disso, comer bem inclui o prazer da convivência e socialização com pessoas queridas, apreciar o ambiente ao redor e cultivar um sentimento de gratidão pela comida”.

Para essa relação se manter saudável, é importante não cortar alimentos a torto e à direito. O carboidrato e o açúcar, os vilões da vez, também desempenham papeis importantes. Lara explica: “Carboidratos facilitam a queima de gorduras e, quando consumidos em quantidades adequadas, ajudam a preservar o uso das proteínas pelo corpo”. O importante é verificar se outros alimentos não estão sendo negligenciados para consumir mais arroz ou batata, por exemplo, e equilibrar o prato.

Quanto ao açúcar, Fernanda diz que ele possui um papel no organismo que não é puramente bioquímico. “Todas as vezes que a gente come um doce, não estamos comendo açúcar puro. Estamos comendo um alimento que tem uma história social e afetiva. Você vai comer um bolo e se lembrar de momentos de celebração, uma massa com molho quentinho servida numa macarronada de domingo”, explica.

O importante é equilibrar refeições simples –com comida de verdade [que não sejam muito processadas], com carboidrato, gordura, proteínas– e outros alimentos que cumprem o papel da afetividade. “Comidas especiais muitas vezes vão ter um pouco de açúcar, mais gordura, podem ter menos nutrientes, mas funcionam como alimentos que nutrem a alma, a sua história, a quem você é e os lugares que você pertence. Elas trazem um senso de comunidade e de pertencimento, que são igualmente importantes para um ser humano viver”.


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Informação

Folha de São Paulo

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