Economia

Indústria de uísque dos EUA se prepara para guerra comercial caso Trump vença eleição

Quando você está no negócio de uísque, está sempre fazendo previsões sobre o futuro.

Desde o momento em que o grão, cultivado no Centro-Oeste, entra na destilaria de Sonat Birnecker Hart, em Chicago, levará de quatro a dez anos até que o uísque seja enviado aos compradores. Portanto, administrar seu negócio requer projeções cuidadosas sobre a demanda.

Esses cálculos se tornaram mais difíceis recentemente. Com a eleição presidencial dos Estados Unidos se aproximando, muitas empresas ao redor do mundo estão enfrentando incertezas sobre o futuro da política comercial americana e as tarifas que os produtos enfrentarão nos mercados globais.

Para a indústria do uísque, as apostas são particularmente altas. Em março, uma tarifa de 50% sobre as exportações de uísque americano para a Europa entrará em vigor, a menos que a UE (União Europeia) e os EUA cheguem a um acordo para interromper as taxas.

O resultado pode depender de quem estará no comando. Tanto o ex-presidente Donald Trump quanto a vice-presidente Kamala Harris abraçaram tarifas, mas seus planos diferem significativamente.

A campanha de Harris disse que usaria tarifas de forma “direcionada” —possivelmente espelhando a abordagem do presidente Joe Biden, que recentemente impôs tarifas sobre veículos elétricos chineses, chips de silício e painéis solares. Como Biden, ela enfatizou trabalhar de perto com aliados.

Trump, em contraste, disse que sua abordagem ao comércio seria ainda mais agressiva do que as guerras comerciais de seu primeiro mandato, quando impôs tarifas rígidas a aliados e rivais para obter concessões e tentar fortalecer a manufatura americana. Ele propôs uma tarifa de 60% sobre produtos da China e uma tarifa de mais de 10% sobre outros bens de todo o mundo.

“Sob meu plano, os trabalhadores americanos não estarão mais preocupados em perder seus empregos para nações estrangeiras. Em vez disso, as nações estrangeiras estarão preocupadas em perder seus empregos para a América”, disse Trump na Geórgia na semana passada, enquanto ameaçava impor tarifas de 100% em todos os carros que cruzassem a fronteira dos EUA vindos do México.

Os resquícios da primeira guerra comercial de Trump continuam a reverberar pelo mundo.

A UE impôs tarifas sobre o uísque americano em 2018, depois que Trump colocou um imposto sobre importações de aço e alumínio da Europa. A administração Biden chegou a um acordo com autoridades europeias para pausar a tarifa, mas essa suspensão expirará no próximo ano.

Em 2026, um conjunto separado de tarifas que a UE, o Reino Unido e os EUA impuseram uns aos outros sobre bebidas alcoólicas (como resultado de uma outra disputa comercial sobre aviões) também está programado para voltar a vigorar, a menos que um acordo seja alcançado.

Chris R. Swonger, presidente do Conselho de Bebidas Destiladas dos EUA, disse que a indústria espera que Trump use agressivamente tarifas se for reeleito. Ele afirmou que alguns destiladores artesanais, diante da perspectiva de novas batalhas comerciais, estão adiando investimentos para expandir na Europa. “Isso pode ser um mau investimento para esse pequeno negócio”.

Governos estrangeiros também têm tentado silenciosamente se proteger contra a interrupção comercial que poderia vir com o retorno das políticas “América Primeiro” de Trump. Em Washington, dignitários têm expandido seus contatos tanto entre os conselheiros de Trump quanto de Harris, e enfatizando suas parcerias estratégicas e econômicas com os EUA.

Em um relatório publicado na semana passada sobre as opiniões de governos estrangeiros sobre a eleição presidencial, especialistas do think thank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais disseram que governos no Canadá, México, Japão, Coreia do Sul, China e UE compartilham preocupações sobre tarifas mais altas sob um segundo mandato de Trump.

“À medida que os americanos vão às urnas, suas escolhas têm ramificações para o mundo”, disse Victor Cha, vice-presidente sênior do centro para a Ásia, em um evento marcando o lançamento do relatório.

Autoridades do Canadá e do México estão particularmente cautelosas, disse o relatório, dado que um acordo que cobre o comércio norte-americano está programado para revisão em 2026. Embora tanto Harris quanto Trump provavelmente tentem mudar certos aspectos do acordo, autoridades estrangeiras acreditam que uma renegociação sob Trump poderia ser muito mais contenciosa e incluir grandes tarifas.

O senador JD Vance de Ohio, candidato republicano à vice-presidência, disse durante um debate na terça-feira (1º) que o “coração” do plano econômico de Trump era colocar tarifas em países estrangeiros e empresas que transferiram empregos para o exterior, e usar esse dinheiro para cortar impostos e fornecer serviços como cuidados infantis.

Ele também argumentou que Trump tornou o mundo um lugar mais estável ao inspirar medo em outros governos. “As pessoas tinham medo de sair da linha”, disse ele.

David Page, chefe de pesquisa macroeconômica da AXA Investment Managers, que está baseado no Reino Unido, avalia que viu “imenso interesse” entre os clientes na eleição dos EUA e seus efeitos de transbordamento no resto do mundo.

Page conta que estava dizendo aos clientes que, enquanto Harris poderia introduzir algumas tarifas e sanções, as grandes tarifas que Trump estava discutindo eram “um jogo totalmente diferente”. Embora o investimento tenha sido forte na primeira metade do ano, Page observa que espera que ele enfraqueça no terceiro trimestre porque empresas estão incertas sobre como as políticas afetariam seus negócios.

“Acho que está tendo um efeito bastante material em todos os níveis de governo e dentro das empresas também”.

Folha de São Paulo

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