Economia

Medalhistas planejam financiar carreiras com explosão de seguidores nas redes sociais

Medalhistas que viram o número de seguidores disparar nas redes sociais durante os Jogos Olímpicos de Paris esperam usar o novo ativo para alçar oportunidades comerciais e fortalecer o financiamento de sua carreira.

O judoca Willian Lima, que passou de 24 mil para 216 mil seguidores no Instagram desde o início da competição, é um deles. Somente no domingo (28), dia em que ganhou medalha de prata no esporte, acumulou mais de 100 mil novos seguidores, segundo o site de análise Social Blade.

À Folha, o atleta disse que deve se organizar com a esposa, gestora da parte comercial da carreira, para mudar a forma como lida com as redes e fidelizar as milhares de pessoas que começaram a acompanhar sua rotina.

“Eu já queria ter investido nisso antes. É uma oportunidade única para contar minha história, mostrar bastidores da vida de atleta”, diz.

“As pessoas já perguntavam coisas da rotina, mas eu ficava receoso em postar, porque não era muita gente e eu era sozinho. Agora, a ambição é maior. Quero chamar alguém para me ajudar a mostrar as coisas com mais carinho.”

Lima ainda não conseguiu contar quantas marcas o procuraram nos últimos dias, mas estima que são mais de 50 contatos comerciais distribuídos entre emails, Instagram e WhatsApp.

“A vontade era fazer tudo, fechar com todas, mas vou olhar para as marcas que agregam mais. A gente sabe o quanto no Brasil é difícil ter patrocinador. Vou fechar com as dispostas a apoiar minha carreira.”

Mutirões de engajamento promovidos pela CazéTV são apontados como grandes influenciadores na popularização dos atletas. A ginasta Julia Soares, divulgada pelo canal, recebeu 600 mil seguidores em um único dia, após apresentação também no domingo, mesmo antes de conquistar a medalha de bronze inédita ao Brasil na ginástica por equipes.

Soares, que começou a competição na casa dos 50 mil seguidores, já acumula mais de 1,9 milhão.

A judoca Beatriz Souza, que conquistou nesta sexta-feira (2) a primeira medalha de ouro do Brasil nas Olimpíadas, viu o número de seguidores sair de 13 mil para 1,4 milhão —e contando— em um único dia.

O saldo é positivo para as contas, que ganham exposição e atraem publicidade. Por outro lado, seguidores que chegam a partir de grandes ações repentinas devem ser geridos com cuidado para que não tenham efeitos comerciais negativos no longo prazo, afirmam especialistas.

Contas com seguidores sem identidade de longo prazo com o conteúdo publicado podem ter queda no alcance espontâneo das pessoas, já que as publicações não recebem interações como comentários, segundo Samuel Pereira, fundador do Segredos da Audiência, empresa de marketing digital.

“Se esses seguidores não estão genuinamente interessados no conteúdo do atleta, o engajamento pode ser baixo. Isso pode afetar negativamente a taxa de engajamento, uma métrica importante para patrocinadores e algoritmos de plataformas sociais”, diz.

“Outro efeito possível é que as pessoas, por não conhecerem bem o estilo do creator, podem chegar para seguir e virarem haters, à medida que veem conteúdos e não gostam ou não entendem. Uma comunidade engajada vale mais do que milhões de seguidores apáticos ao seu conteúdo”, diz Rafa Lotto, sócia da consultoria de marketing Youpix.

A Folha ouviu equipes de mídia social voltadas para a fidelização de novos seguidores. Uma delas é a 360 Sports Press, que agencia as medalhistas de bronze Larissa Pimenta, do judô, e Lorrane Oliveira, da ginástica artística.

A empresa conta que, desde o início da competição, recebe contato de diversas empresas interessadas nas redes sociais das atletas, e que prepara uma expansão dos conteúdos publicados para nichos como saúde, moda e beleza.

No caso de Oliveira, que saiu da casa dos 100 mil para mais de 1,5 milhão de seguidores no Instagram, a 360 Sports Press revelou um aumento de 110% nos contatos por parte das marcas.

“Essas oportunidades comerciais ajudam a garantir a estabilidade financeira necessária para que a atleta continue competindo em alto nível e atingindo seus objetivos no esporte”, diz a agência.

“Estamos focando criar conteúdo autêntico e relevante, que mostre não apenas a rotina de treinos e competições da Lorrane, mas também momentos pessoais e dicas de beleza.”

A equipe de Larissa Pimenta, que acumula 271 mil seguidores, quase o quíntuplo do que tinha há dez dias, afirma que usará a disparada de acessos para projetá-la também em outras redes, como o YouTube.

“Estamos utilizando pesquisas baseadas no público-alvo da Larissa. Com isso, conseguimos traçar estratégias de social media focadas nos conteúdos que seus seguidores buscam”, diz a 360 Sports Press.

Se tornar influenciador não deixa de ser uma nova responsabilidade a ser encarada pelos atletas, de acordo com Maria Luísa Simões, diretora de comunicação digital do criador de conteúdo Fred Bruno.

“Quando o atleta vai bem, tudo certo. Mas, se ele perde, tem quem fale que foi porque não treinou e está fazendo publicidade na internet. As redes sociais viram mais um peso nessa questão de saúde mental”, diz.

“É uma pressão psicológica enorme. Jogar o atleta sozinho para os leões e tubarões da internet é muito perigoso. É aí que entra o suporte de profissionais para ajudar nessa parte de criar conteúdo”.

Folha de São Paulo

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