Economia

Não há caminho sem mulheres negras

A presença de mulheres em posições de tomada de decisão e poder é um desafio sobre o qual falamos mais nos últimos anos, mas ainda faltam ações efetivas e urgentes para diminuir o abismo existente que não garante a esse público acesso e representatividade nos espaços decisórios.

Desconstruir vieses e desfazer as barreiras estruturais que afastaram mulheres desses espaços requer um compromisso contínuo e intencional. Ao abordar essas questões de forma proativa, empresas e instituições podem criar um ambiente de trabalho mais justo e igualitário para todas as mulheres. As empresas que têm saído na frente nesta agenda são aquelas que consideram este um problema grave e que precisa de ações concretas para ser solucionado.

Se faz necessária ainda uma análise interseccional dos diferentes contextos. Neste caso, quando se analisa a realidade das mulheres com a interseção racial, temos a chamada “dupla discriminação”, já que mulheres negras são frequentemente afetadas pelo machismo, sexismo e pelo racismo. Isso infelizmente têm impactado de maneira sistemática e profunda suas contratações, promoções, experiências no local de trabalho e suas carreiras de um modo geral.

Alguns pontos importantes a considerar para a criação de ambientes mais inclusivos para mulheres nos setores público e privados:

Estruturais: As mulheres negras enfrentam barreiras estruturais, como estereótipos negativos e preconceitos arraigados, que podem limitar suas oportunidades de avanço e progresso na carreira. É importante que organizações abordem esse tema e busquem desenvolver e capacitar pessoas colaboradoras em todas as posições para avançarmos nesse sentido.

Representatividade: A falta de representatividade em cargos de liderança nos setores privados e públicos é uma questão crítica. Ter mulheres pretas em posições de poder e influência não apenas cria modelos positivos, mas também pode influenciar políticas públicas e práticas organizacionais que sejam realmente inclusivas, respeitosas e acolhedoras.

Diferença salarial: Segundo o 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, publicado em março de 2024 e que coletou dados de quase 50 mil estabelecimentos, a remuneração de mulheres está 19,4% abaixo da remuneração recebida por trabalhadores homens. O relatório ainda apresenta dados que mostram que as mulheres negras estão em menor número nas organizações e têm a remuneração mais desigual, elas ganham em média 66,7% da remuneração das mulheres não negras.

Programas de desenvolvimento profissional: É preciso intencionalidade e propostas que contemplem ações para desenvolvimento de carreira de mulheres negras. Isso inclui mentorias, programas de desenvolvimento profissional e de liderança, ações afirmativas e revisão de práticas de contratação e processos seletivos que acabam por excluir e afastar ainda mais esse público das oportunidades.

O caminho é longo. Racismo e machismo estavam nas bases das construções sociais e a manutenção das desigualdades e do não acesso ainda, infelizmente, são feitas. Desfazer essas estruturas excludentes é responsabilidade de todas as pessoas e de organizações de quaisquer natureza. Mas não há caminho sem nós. Não há futuro inclusivo e diverso sem a participação de mulheres negras. O mundo que queremos construir só será de fato inclusivo quando ele além de ter também a nossa cara, contar com as nossas decisões.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Luana Corrêa foi “Mulheres negras”, de Ilú obá de Min.

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Folha de São Paulo

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