Política

Pulverização de candidatos não dá resultado, e Ramagem tenta sozinho desidratar Paes

A estratégia do PL de pulverizar candidaturas de oposição ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), que tenta a reeleição, ainda não deu o resultado esperado. Nomes vistos como auxiliares ao do deputado federal Alexandre Ramagem (PL) ainda engatinham e dificultam a realização de um segundo turno.

O PL estimulou na pré-campanha as candidaturas dos deputados Rodrigo Amorim (União Brasil) e Marcelo Queiroz (PP), a fim de que atraíssem eleitores de diferentes perfis do prefeito. A leitura era de que o movimento seria necessário para ampliar a desidratação da reeleição de Paes no primeiro turno.

Até o momento, os dois ainda não superaram os dois pontos percentuais em intenções de voto nas pesquisas do Datafolha.

Paes manteve 59% das intenções de voto na última pesquisa, divulgada na quinta-feira (19), o que lhe dá margem confortável para concluir a disputa no próximo dia 6 de outubro.

Ramagem atingiu 17% das intenções de voto, demonstrando um viés de alta desde os primeiros levantamentos, como esperado por sua campanha. Contudo há dúvidas se ele terá capacidade de provocar um segundo turno sem a melhora de desempenho dos demais adversários.

Questionado sobre a efetividade da estratégia traçada na pré-campanha, Ramagem tergiversou. “Não acredito que tenha sido uma estratégia coordenada. Os partidos estão no jogo democrático e elegeram seus representantes. Estou crescendo e vamos chegar no segundo turno.”

Caso fossem aliados ao PL, os dois partidos poderiam ampliar o tempo de TV de Ramagem. O candidato do PL tem 3min28s no bloco de 10 minutos do propaganda eleitoral, 2 segundos a mais que Paes. Queiroz e Amorim somam 2min37s, tempo que poderia ser destinado ao aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro caso houvesse coligação.

Embora planejadas antes da campanha, as candidaturas auxiliares tomaram rumos independentes a partir do início do período eleitoral.

O desalinho começou no primeiro dia do período eleitoral, quando uma proposta de agenda conjunta naufragou. A intenção era levar os três a um cartório para registrar o compromisso com a conclusão do mandato de quatro anos. O objetivo era destacar a possibilidade de Paes deixar o cargo em 2026 para disputar o governo estadual —o que o prefeito nega que fará. Acabou não havendo acordo.

A principal queixa entre bolsonaristas é com a atuação de Queiroz. O deputado federal do PP passou a se apresentar como um candidato antipolarização, tecendo críticas tanto ao presidente Lula como ao ex-presidente Bolsonaro.

Queiroz atribui o baixo desempenho dos demais candidatos ao que chama de “clima frio” da campanha no Rio de Janeiro. Ele espera crescer nos últimos dez dias de campanha.

“A ideia da minha candidatura sempre foi nem Lula, nem Bolsonaro. Nem direita, nem esquerda. Há um crescimento do Ramagem que vai se acentuar nas últimas semanas. A partir daí, sempre foi nossa aposta mostrar que existe um caminho intermediário para quem não aguenta mais Lula e Bolsonaro”, disse ele.

O parlamentar do PP afirma que a eleição ainda não “esquentou” em razão de “uma passividade do Ramagem durante a eleição”.

“PL não está fazendo o papel dele, que é polarizar. O Paes sempre dá paulada no governador [Cláudio Castro, do PL], no grupo político, mas há uma falta de resposta. Ele não defende o governador. Isso faz ele perder a base, que se desmobiliza”, disse ele.

Amorim, que assume ser uma linha auxiliar de Ramagem, afirma que Queiroz abandonou o “desenho original” da frente.

“Tínhamos uma impressão de que ele integraria essa frente, porque seria algo natural. Depois de dizer que ele não é de esquerda nem de direita, acabou saindo desse desenho original do que seria”, afirmou.

Ele também atribui a dificuldade de nomes fora do polo Paes-Ramagem à ausência de debates. Enquanto São Paulo tem a expectativa de chegar a 11 debates, no Rio de Janeiro a previsão é de apenas três. O SBT e a TV Record, que promoveram o confronto entre os candidatos paulistas, não marcaram o programa entre os cariocas.

A desistência da TV Record é a mais sentida entre os candidatos, em razão de sua ligação com a Igreja Universal e a capilaridade no eleitorado evangélico. Amorim afirma que a não realização do debate se deve à aliança entre Paes e lideranças da denominação.

Procurada a Record não comentou. O SBT disse, por meio de sua assessoria, que foi uma decisão da empresa não realizar debate no Rio de Janeiro.

Amorim tem apostado em cenas mais belicosas contra a esquerda para crescer.

Amorim se envolveu em confusão na PUC-Rio na semana passada e alegou que estudantes o censuraram durante sabatina promovida na universidade. Ele acredita poder crescer entre eleitores de Paes que não veem em Ramagem a postura de confronto mais clara contra a esquerda.

“Tem perfil de eleitor que quer o confronto. E esse não é o perfil do Ramagem” disse ele.

Curiosamente, o desempenho do candidato à esquerda do espectro político também é motivo de lamentações na campanha de Ramagem. Esperava-se que o deputado Tarcísio Motta (PSOL) atraísse mais petistas, a fim de desidratar Paes nessa fatia do eleitorado. Ele registrou 7% das intenções de voto na última pesquisa da Datafolha, patamar que vem mantendo desde os primeiros levantamentos.

Folha de São Paulo

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