Política

Tarcísio prepara mergulho em campanha de Nunes, mas quer evitar agressividade contra Boulos

Era aniversário da capital paulista, e algumas semanas haviam se passado desde o anúncio de que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu partido, o PL de Valdemar Costa Neto, enfim apoiariam a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Naquele 25 de janeiro, o emedebista e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vinha defendendo sua pré-candidatura, participaram lado a lado de agendas para anunciar medidas conjuntas para a cidade.

Os dois trocaram afagos, se chamaram de irmãos e consolidaram o discurso de alinhamento e sinergia entre prefeitura e estado que repetiriam nos meses seguintes, à medida que se aproxima o período eleitoral. “Quem conhecer teu coração vai te admirar cada vez mais, como eu já te admiro”, disse Tarcísio ao aliado.

O entorno do governador avalia que ele deve oferecer um apoio firme a Nunes ao longo da campanha —nos limites do que for viável, considerando que Tarcísio tem a máquina estadual para gerir. Alguns aliados apostam que ele deve participar de inserções na televisão e dividir palanque com o prefeito.

Se Guilherme Boulos (PSOL), principal adversário de Nunes e representante do presidente Lula (PT) na disputa, abrir vantagem nas pesquisas, é provável que Tarcísio se engaje ainda mais na campanha.

Pessoas próximas dizem que o governador irá trabalhar para que Boulos não saia vitorioso. A avaliação é que a eleição do deputado federal atrapalharia ações em conjunto com a prefeitura, já que Boulos representa e defende um projeto muito diferente do de Tarcísio.

Aliados afirmam que é importante que a relação com a administração municipal esteja pacificada. Desde janeiro, o governador tem repetido que as duas gestões precisam trabalhar juntas para alcançar sucesso.

“Eu já manifestei meu apoio à pré-candidatura dele”, disse Tarcísio na terça-feira (28) ao ser questionado pela Folha sobre sua participação na campanha de Nunes. “Tem sido uma pessoa muito fácil de trabalhar, tem ajudado. A gente está caminhando na mesma direção, o diálogo flui. Acho que isso é interessante para a cidade e para o estado de São Paulo.”

Por outro lado, aliados dizem que o governador não irá adotar um discurso agressivo contra Boulos. Isso porque, primeiro, Tarcísio deseja manter a imagem de racionalidade e moderação que o elegeu em 2022. Depois porque, se o rival for eleito, o governador precisará recebê-lo no dia a dia e construir uma relação —por isso, é importante evitar traumas ao longo da campanha.

Pessoas que conversam com Nunes e Tarcísio ressaltam que os dois têm feito agendas juntos, se falam com frequência, têm uma boa relação pessoal e estão alinhados.

O entorno do prefeito entende que o governador será um cabo eleitoral fundamental para a transferência de votos e que é importante que os dois continuem a fazer entregas e aparecer juntos.

“O apoio do governador à candidatura é muito importante do ponto de vista eleitoral”, diz o secretário municipal Enrico Misasi, presidente do MDB na capital. “Mais do que isso, é a garantia de que o governo e a prefeitura vão continuar trabalhando juntos.”

Em abril, um jantar de apoio à reeleição de Nunes reuniu integrantes de dez partidos, incluindo nomes de peso da política paulistana, como o próprio Tarcísio, o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o secretário Gilberto Kassab (PSD).

Aliados de Nunes avaliam que o encontro sinalizou a construção de uma frente ampla de direita, que terá como primeiro teste a eleição em São Paulo. Segundo essa avaliação, o pleito de outubro na cidade será um espelho para o resto do país. Nesse sentido, uma vitória indicaria o fortalecimento do grupo em oposição à gestão Lula, representada por Boulos.

Assim, eles acreditam que Tarcísio também tem interesse direto no sucesso de Nunes e dessa composição, que poderá integrar sua base de apoio em 2026, seja para a reeleição ou para a Presidência. Uma derrota do prefeito sinalizaria o fortalecimento da esquerda em âmbito nacional, o que iria de encontro aos planos e convicções do governador.

Em janeiro, Tarcísio já havia reverberado a ideia da frente ampla, defendida pelo entorno do prefeito. “A gente está construindo uma frente ampla de aliança, uma frente ampla de apoio ao Ricardo Nunes”, disse o governador à época.

Nunes e Tarcísio se conheceram quando o governador era ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, e as administrações federal e municipal negociavam a dívida da cidade com a União e o uso do aeroporto Campo de Marte. Os dois se aproximaram, porém, apenas no ano passado, ao longo do primeiro ano de gestão Tarcísio.

O governador, que costuma ser fustigado por bolsonaristas que o acusam de não defender valores ideológicos importantes para o grupo, embarcou na pré-candidatura de Nunes antes de Bolsonaro. Avaliado por pessoas próximas como uma pessoa pragmática, Tarcísio aderiu à tese de que a direita precisaria apoiar um candidato moderado para vencer Boulos na capital, onde Lula obteve 53% dos votos no segundo turno de 2022.

Bolsonaro chegou a sinalizar apoio à pré-candidatura de Ricardo Salles (PL), ex-ministro do Meio Ambiente de sua gestão, mas ele não conseguiu sustentação no partido para se viabilizar. O PL de Valdemar Costa Neto também não permitiu que ele deixasse a legenda para se candidatar por outra sigla, mantendo o mandato na Câmara dos Deputados.

“São Paulo merece realmente um nome de uma pessoa que vá fazer pelo município e não fazer por um partido”, afirmou o ex-presidente a jornalistas em dezembro do ano passado. “Salles prefeito”, emendou.

Algumas semanas depois, porém, Tarcísio, Bolsonaro e Valdemar pactuaram o apoio a Nunes, que foi anunciado pelo presidente do PL, com a expectativa de participar da indicação do vice. Segundo o entorno do ex-presidente, inelegível e na mira da Polícia Federal, ele não teve força naquele momento para bancar a pré-candidatura de Salles, o que significaria ir contra o governador e a direção da sigla.

No fim, o ex-ministro desistiu da corrida eleitoral a pedido de Bolsonaro e também porque quis evitar ser responsabilizado por uma eventual vitória de Boulos, caso conseguisse chegar ao segundo turno e perdesse para o aliado de Lula.

Folha de São Paulo

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