Saúde

Veja sete livros de memória recomendados por psicólogos que abordam problemas de saúde mental

Em qualquer livraria é fácil encontrar mesas lotadas de livros de autoajuda para todos os problemas imagináveis. Mas há momentos em que o conselho mais sábio pode estar escondido na seção de memórias.

Esses relatos em primeira pessoa podem fornecer provas de que reveses são sobrevivíveis. “A maneira como o narrador cria significado nos oferece um convite para pensar sobre o significado que criamos em nossas vidas”, diz Jonathan Adler, professor de psicologia da Escola de Engenharia Franklin W. Olin. “É um convite para perceber que você está interpretando sua história e que você tem escolhas sobre como quer fazer isso.”

Terapeutas, psicólogos e outros especialistas em saúde mental recomendaram livros de memórias que capturassem como é lutar e encontrar o equilíbrio novamente. Aqui estão sete títulos que chegaram ao topo da lista.

‘Uma Mente Inquieta’, por Kay Redfield Jamison

Professora de psiquiatria na Faculdade de Medicina Johns Hopkins, Jamison detalha sua experiência de viver com transtorno bipolar —ou doença maníaco-depressiva, como a condição era conhecida quando este livro de memórias foi publicado pela primeira vez, em 1995.

Ela também descreve a longa “guerra” que travou contra si mesma ao resistir intermitentemente à medicação. “É um relato honesto da luta para permanecer na terapia e continuar com o tratamento quando os altos do transtorno bipolar são tão convincentes”, afirma Alexis Tomarken, terapeuta na cidade de Nova York.

Harriet Lerner, psicoterapeuta em Lawrence, Kansas, e autora de “The Dance of Anger: A Woman’s Guide to Changing the Patterns of Intimate Relationships” [sem publicação em português], disse que frequentemente recomenda este livro a pacientes com transtorno bipolar, mas não “quando eles estão em um estado frágil ou desregulado”, já que ler a obra pode ser uma experiência emocional.

‘Só Garotos’, por Patti Smith

Neste título, vencedor do prêmio norte-americano de literatura de 2010 para não-ficção, a cantora Patti Smith reflete sobre como foi sua trajetória como poeta, performer e artista visual na cidade de Nova York no final dos anos 1960 e início dos anos 1970.

Falida, perturbada pela violência política da época e navegando em relacionamentos fluidos, ela ocasionalmente caía no desespero. Mas compartilhou uma dedicação à arte com o fotógrafo Robert Mapplethorpe que a estabilizou e a alimentou.

“Foi inspirador para mim, como alguém que não é artista, ver esse tipo de comprometimento”, afirma Ben Endres, psicoterapeuta em Milwaukee, que acrescentou que recomendaria este livro a qualquer um que esteja tentando romper com as expectativas convencionais.

‘O Castelo de Vidro’, por Jeannette Walls

Romancista e ex-jornalista, Walls relembra sua experiência de crescer em uma família em que ela e seus irmãos eram frequentemente forçados a se defenderem sozinhos.

A resiliência de Walls em resposta ao fato de ter sido criada por pais com problemas mentais não tratados “ressoou profundamente” com Nedra Glover Tawwab, uma terapeuta em Charlotte, Carolina do Norte, e autora de “Sem Drama: Um Guia Para Gerir Relacionamentos Pouco Saudáveis”. Ver alguém “passar por certas dificuldades na vida e conseguir ter alguma luz no fim do túnel é muito útil”, diz ela sobre o livro de memórias de 2005.

Para pessoas que estão lidando com problemas familiares, especialmente dinâmicas difíceis entre irmãos, o livro pode lançar luz sobre como os membros da família podem ser impactados de forma diferente pelos mesmos eventos, disse ela.

‘Born to Run’, por Bruce Springsteen

No relato autobiográfico do cantor Bruce Springsteen sobre como se tornou uma estrela do rock, ele também fornece um passe livre para suas lutas de décadas contra a depressão e os cuidados consideráveis que toma, com a ajuda de medicamentos e terapia contínua, para manter a saúde mental.

Ben Endres recomenda o livro, que foi publicado em 2017, pela maneira sem julgamentos como Springsteen aceita sua depressão e por sua coragem ao lidar com outros desafios.

“Ele é aberto sobre sua dinâmica familiar, suas emoções e sua vida sexual de maneiras que eu acho que ajudam os outros a se entenderem, mesmo quando suas experiências são muito diferentes das dele”, completa o psicoterapeuta.

‘Estranhos a Nós Mesmos: Histórias de Mentes Instáveis’, por Rachel Aviv

Na obra, a redatora da The New Yorker analisa sua história como paciente psiquiátrica, incluindo as semanas que passou na unidade de anorexia de um hospital infantil quando tinha 6 anos. A mudança de identidade que ocorre, interna e externamente, quando as pessoas recebem diagnósticos de saúde mental é um tema central deste título de 2022 que mistura memórias com histórias de outras pessoas que foram tratadas por sofrimento mental grave.

O livro de Aviv “nos ajuda a ver quão incondicionalmente aplicamos a linguagem e os diagnósticos psiquiátricos e quão reducionista isso pode ser”, afirma Mark Epstein, psiquiatra e autor de “Terapia Zen: Quando a Psicologia e o Budismo se Encontram no Divã“.

A obra também fornece uma visão fascinante da mente da autora durante sua hospitalização quando jovem e demonstra como a paciência e a tolerância de seus pais, professores e terapeutas facilitaram sua recuperação, afirma.

‘O Demônio do Meio-Dia’, por Andrew Solomon

Após vivenciar seu primeiro episódio de depressão grave no início dos seus 30 anos, Andrew Solomon decidiu entender o que causa a depressão e como ela é entendida e tratada ao redor do mundo. Jornalista e ensaísta, decidiu escrever sobre tudo isso neste abrangente livro de memórias de 2001, vencedor do prêmio norte-americano de literatura não-ficção do Prêmio Lambda na categoria autobiografia/memória.

“De uma forma enciclopédica, ele foi de cultura em cultura, demonstrando essa fome por histórias” para ajudá-lo a entender sua própria experiência, diz Adler. “É revelador para qualquer um —e há muitos de nós— cujas vidas foram tocadas” pela depressão.

Wave, por Sonali Deraniyagala [sem publicação em português]

Sonali Deraniyagala perdeu seus pais, seu marido e seus dois filhos pequenos no tsunami no Oceano Índico de 2004 e escreve sobre as consequências em seu livro de memórias de 2013, “Wave”.

A história explora aspectos do luto que as pessoas “frequentemente sentem, mas não falam sobre isso —a maneira como você pode esquecer por um momento o que perdeu, a maneira como você é consumido por isso, o caos e a desorganização disso e então o isolamento e a incapacidade de palavras”, afirma Tomarken.

Enquanto Deraniyagala retorna ao hotel em que estava hospedada no Sri Lanka, onde perdeu sua família durante as férias de Natal, e anos depois quando ela visita sua casa em Londres, que foi deixada praticamente intocada desde que partiram naquela viagem, “Wave” explora como a luz “penetra e satura” a escuridão contra todas as expectativas, diz Tomarken

Informação

Folha de São Paulo

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