Economia

Produção de veículos desaba em maio devido às enchentes no Rio Grande do Sul

As enchentes no Rio do Sul e a paralisação dos servidores ambientais tiveram reflexos no setor automotivo em maio. Os dados divulgados pela Anfavea (associação das montadoras) nesta sexta (7) mostram queda de 24,9% na produção de veículos leves e pesados na comparação com o mês de abril.

Em relação a maio de 2023, a redução é de 26,8%. Com o resultado, a tendência de alta que vinha sendo registrada no acumulado do ano se transformou em retração. As 926,8 mil unidades montadas entre janeiro e maio representam uma queda de 1,7% em relação ao mesmo período do ano passado.

“Deixamos de produzir em maio 43 mil unidades, e temos o Rio Grande do Sul com um impacto de 12 mil unidades que não foram fabricadas”, diz Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea. “A produção tem sido retomada, mas ainda não retornou à normalidade. É uma questão tão complexa que vamos analisando passo a passo.”

As paralisações não se limitaram às fábricas de veículos e componentes daquele estado, e houve reflexo em outras regiões devido à quebra na cadeia automotiva.

Nos emplacamentos de veículos, o mês de maio terminou com uma redução de 12% em comparação a abril. Contudo, na comparação com maio de 2023, houve crescimento de 10%, o que manteve números positivos nossa primeiros cinco meses de 2024 —alta de 14,9%, com 929,7 mil veículos leves e pesados vendidos.

O mercado do Rio Grande do Sul teve queda de 64% na comercialização de carros, segundo o presidente da Anfavea. “Perdemos 6.500 emplacamentos em maio devido somente ao Rio Grande do Sul. Temos também a questão da sazonalidade, e já havíamos previsto queda em relação a abril.”

Além das enchentes no Rio Grande do Sul, o licenciamento de automóveis novos também foi impactado pela paralisação dos servidores ambientais, que mantêm carros retidos em pátios e portos no Brasil e no exterior, à espera de autorização para embarque e distribuição. O mês teve também um dia útil a menos em relação a abril.

Francisco Tripodi, sócio-diretor da consultoria Pieracciani, diz que as vendas e a produção certamente diminuirão em 2024 devido aos problemas no sul, que tem um polo automotivo relevante no país.

Esse risco é real e as vendas certamente diminuirão devido à baixa produtividade resultante dessa situação no Rio Grande do Sul. As montadoras têm dado férias coletivas, o que pode ajudar a mitigar o impacto, mas o efeito sobre o faturamento e as vendas das empresas da região já é evidente.”

Tripodi afirma que o estado possui um polo automotivo muito forte, e a produção de um veículo pode ser interrompida pela falta de um único componente.

“Já vivenciamos uma situação em que uma grande montadora teve sua produção paralisada devido à falta de um parafuso importado, que enfrentou problemas de importação e desabastecimento. Na época, a solução foi encontrar um fornecedor local, homologá-lo rapidamente e, assim, substituir a importação pela produção local.”

Em nota, José Maurício Andreta Jr., presidente da Fenabrave (associação dos distribuidores de veículos), lembra que o mês de maio teve um dia útil a menos em relação a abril. Ele diz ainda que a entidade não vai revisar suas previsões agora, por acreditar na retomada.

“Embora o momento seja de cautela, em razão das dificuldades enfrentadas no Rio Grande do Sul, cujos prejuízos das enchentes ainda estão sendo contabilizados, as condições favoráveis do crédito mantiveram o mercado aquecido no restante do país, seja em maio como no acumulado dos cinco primeiros meses deste ano, fazendo com que o mercado total continue apontando viés positivo”, afirma Andreta.

“O estado respondeu por cerca de 4% dos licenciamentos do Brasil até abril. Sabemos que houve perdas, mas parte dessa frota poderá ser reposta nos próximos meses, considerando os sinistros ainda não registrados.”

Apesar da paralisação dos servidores ambientais e da recomposição do Imposto de Importação, as importações de veículos vindos da China cresceram 510% na comparação entre os cinco primeiros meses de 2023 e de 2024. Os 42,8 mil veículos vindos daquele país representam 27% de todos os carros estrangeiros que chegaram ao Brasil neste ano.

Já as exportações seguem em queda, com retração de 41,4% na comparação entre os meses de maio. Esse ponto preocupa a Anfavea: as montadoras instaladas no mercado nacional seguem operando com capacidade inferior à instalada.

“Não temos nenhuma guerra contra as importações, mas precisamos ter um equilíbrio em relação à produção local”, afirma o presidente da Anfavea.

Montadoras pedem que setor seja excluído do ‘imposto do pecado’

A Anfavea deseja que o setor automotivo seja excluído do Imposto Seletivo, apelidado de ‘imposto do pecado’.

O projeto de regulamentação da reforma enviado pelo Ministério da Fazenda ao Congresso inclui alguns veículos nesse regime diferenciado, cuja finalidade é taxar produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como bebidas alcoólicas, cigarros e refrigerantes.

Antes, as discussões estavam concentradas no IPI Verde, que faz parte do programa Mover (Mobilidade Verde e Sustentabilidade). As novas alíquotas do Imposto Sobre Produtos industrializados devem levar em consideração a eficiência energética dos veículos, com destaque para modelos eletrificados que podem consumir etanol.

“O que preocupa a Anfavea é o aumento de tributo, em qualquer situação. O esforço que o governo vem fazendo junto com o setor automotivo é para baratear o preço dos automóveis. Temos um crescimento das vendas de veículos usados, temos que trazer esse consumidor para a compra do primeiro veículo [zero-quilômetro]”, diz Márcio de Lima Leite, presidente da associação das montadoras.

Leite afirma que o setor aguarda pela publicação final do Mover, que segue para votação na Câmara.

Para Francisco Tripodi, da consultoria Pieracciani, a aprovação do Mover no Senado não foi recebida com grande entusiasmo pela indústria automotiva.

“Um acordo já foi alcançado, removendo a maioria dos outros ´jabutis’ que haviam sido adicionados pelo Senado. O presidente da Câmara [Arthur Lira] comprometeu-se a votar o Mover na próxima terça-feira [11], com a expectativa de que o Senado aprove o texto final na quarta ou na quinta”, diz Tripodi. “A expectativa é que até sexta [14] o projeto de lei seja sancionado.”

Segundo o consultor, muitas empresas ainda não perceberam o risco que o programa enfrentou devido a impasses nas negociações. “Discussões estratégicas estão ocorrendo entre a Anfavea e o governo, uma vez que a medida pode beneficiar algumas montadoras mais do que outras. No entanto, no final, todas as empresas devem se habilitar, para não perderem os benefícios.”

Folha de São Paulo

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